sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Mito do Capital de Giro

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Bom dia amigos, fiquei off line alguns dias, fruto de uma oportunidade de "férias" (sim, porque viajar 2 dias é férias para qualquer empreendedor) que surgiu repentinamente. Como é bom lembrar dos tempos de período sabático... Semana que vem terei mais alguns dias de vagabundagem, rsrs!

Como disse na última postagem, hoje tratarei de um assunto obrigatório no mundo do empreendedorismo, o capital de giro. O conceito de capital de giro segundo a Wikipédia é:
"Capital de Giro ou Ativo Corrente, em inglês Working Capital, é um recurso de rápida renovação (dinheiro, créditos, estoques, etc.) que representa a liquidez da operação disponível para a entidade (negócio, organização ou outra entidade qualquer, incluindo entidades públicas).É uma importante ferramenta para tomada de decisões, pois se refere ao ciclo operacional de uma empresa, englobando desde a aquisição de matéria-prima até a venda e o recebimento dos produtos vendidos.Assim como o ativo fixo como plantas e equipamentos, o capital de giro é considerado uma parte do capital operacional."
Eu resumo capital de giro como: "a grana que deverá entrar na empresa num determinado período de tempo (normalmente 1 mês)", seguindo esse meu conceito de boteco, capital de giro nada mais é que o faturamento de 1 mês que teoricamente o empresário deve ter em caixa diariamente. A unanimidade dos textos que tratam de empreendedorismo, incluindo o badalado Sebrae, coloca o capital de giro praticamente como a chave do sucesso ou fracasso de uma empresa, porém, o buraco é mais em baixo...

Não estou desmerecendo a importância nem a necessidade de manter uma quantia de dinheiro suficiente para manter a operação da empresa num determinado período te tempo, minha intenção é desmistificar a obrigatoriedade disso. O capital de giro é fundamental em diversas situações:

1- Empresa em fase de consolidação: você montou uma loja, leva certo tempo para que o faturamento cresça e estabilize, durante esse período você deverá ter dinheiro suficiente para bancar a operação. Jamais podemos esquecer de contabilizar esse capital de giro como investimento na empresa. Um erro muito comum que vejo sempre nos causos por aí é o empresário montar uma mega estrutura, com baita estoque e "esquecer" do capital de giro. O resultado a gente já conhece, um cara desses vai engrossar os não sei quantos porcentos de empresas que fecham no primeiro ano.

2- Comércios sazonais: se você tem uma sorveteria em Pirituba, com certeza seu faturamento em agosto será uma fração do que entra no caixa em janeiro, mas os custos provavelmente são bem semelhantes. Nesse caso ter capital de giro é fundamental pra sobreviver, mas essa provisão deve vir dos meses das vacas gordas, não necessariamente do bolso do empresário.

3- Indústria: não tenho experiência nesse setor, mas se você é industrial provavelmente terá meses de alta produção, outros de muita venda e baixa produção, enfim, mil cenários possíveis. Ter grana pra manter um caixa saudável é fundamental.

Devem existir mais alguns casos onde a necessidade de capital de giro é fundamental, mas dentro da minha realidade e experiência (a de comerciante tradicional) essa necessidade é praticamente nula. Veja o seguinte exemplo:

Seu Japa é dono da quitanda do Bairro X, ele vende frutas, verduras e legumes comprados diariamente no Ceasa. As formas de pagamento aceitas pelo Seu Japa são dinheiro, cartão de débito e crédito. Seu Japa sabe que a rentabilidade bruta média da quitanda é de 50%, ou seja, pra cada real que vende, é preciso comprar R$ 0,50 de mercadoria. Do R$ 0,50 de lucro é necessário pagar as despesas fixas (água, luz, telefone, aluguel, contador...) e o que sobrar é lucro.

Aproximadamente 70% do faturamento do Seu Japa é dinheiro e o restante em cartões. Toda noite ao fechar o caixa, Seu Japa separa 50% do faturamento do dia (em dinheiro) para gastar com mercadorias no dia seguinte no Ceasa. Os recebimentos dos cartões ficam acumulando na conta corrente e são usados para pagar as contas de consumo, funcionários e aluguel do salão da quitanda. No último dia do mês, Seu Japa transfere todo o dinheiro que sobrou na conta da quitanda para sua conta pessoal e pega toda o dinheiro em espécie que sobrou e leva para casa. Esse é seu lucro.

Vejam que o exemplo acima, embora simplista, é extremamente real. Praticamente todo comércio tem um fluxo de faturamento homogêneo e todo dia entra e sai dinheiro. Então não há a menor necessidade de manter em caixa uma grande quantia de dinheiro só para falar que tem capital de giro. Claro, que dependendo do setor e de características individuais, há períodos do mês em que a saída de dinheiro é maior que a entrada, mas pra isso basta um planejamento simples pra contornar. Educação financeira vai bem em qualquer lugar!

Uma estratégia que utilizo para pagar despesas altas da empresa, como prestação e aluguel, é dividir o valor da despesa pelos dias de trabalho e provisionar diariamente essa quantia. No dia do pagamento, a grana tá lá, prontinha pra cumprir as obrigações.

Como vocês podem ver, a mídia acaba por foder atrapalhar a cabeça de quem deseja empreender com conceitos muitas vezes complexos e deturpados. Acredito que isso aconteça com qualquer modalidade de investimento e quem está aprofundado consegue visualizar esse tipo de erro melhor que aquele que está de fora. Um outro absurdo que leio muito é "o pequeno empresário tem pouco acesso a crédito e isso acaba inviabilizando muitos negócios". Pqp! Começar um negócio com dinheiro de terceiros é quase sempre dar tiro no pé, além disso é muito fácil obter crédito (desde que você faça por merecer). Mas isso é tema pra um outro post...

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