sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Importância de Quebrar a Cara

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Cresci vendo meu pai quebrando a cara, fazendo negócios errados, com pessoas erradas, nos momentos errados. Durante toda minha infância e adolescência a situação financeira dos meus pais foi sempre marcada por altos e baixos. Um dia meu pai tinha carro zero e a dispensa estava cheia, no outro estava a pé e com os cartões de crédito estourados. A situação só foi melhorar quando eu já era praticamente adulto e já trabalhava. Aquela situação era extremamente chata, eu nunca sabia como estaria a situação após 3 ou 4 meses, tudo dependeria do sucesso dos negócios que o velho fazia. A grana da minha mãe male má dava para pagar minha escola (a coisa que sou mais grato!). Jurei pra mim mesmo que jamais teria altos e baixos!

E assim foi, desde que ganhei meu primeiro salário consertando bicicletas, sempre fui controlado. Jamais gastei tudo e sempre guardava um pouco com medo de ter um revés e ficar duro como meu pai. Quando comprei minha primeira loja acabei me enrolando, não tinha experiência com grandes quantias e me enfiei em dívidas, porém na minha cabeça aquilo não era um revés, não era uma rasteira da vida como as dezenas que meu pai levou, era somente um período obscuro com um futuro brilhante pela frente. Eu estava certo, consegui sair rapidamente das dívidas após trabalhar incansavelmente durante algum tempo. Logo tudo se estabilizou e até hoje, 2014, não tive altos e baixos na vida. Talvez se eu tivesse arriscado mais poderia ter tido mais altos, mas também poderia ter tido baixos, coisa que nunca quis. Enfim, tenho conseguido cumprir minha promessa.

Uma coisa tem me intrigado. Ultimamente tenho relembrado muitas histórias de pessoas que quebraram e se reergueram, ou quebraram e se acertaram mas não voltaram ao ponto que estavam antes da quebra. Meu pai mesmo está estabilizado financeiramente, acho que a idade chegou e finalmente ele se tocou que não pode mais ficar fazendo loucuras em busca de uma riqueza que nem ele mesmo valoriza. Não está no seu auge financeiro, mas se tudo correr bem, não terá grandes dificuldades financeiras até o fim da vida. Um amigo dele que nos anos 90 era rico (casas de aluguel, apartamentos de temporada no Guarujá e em Campos do Jordão; Tempra e Alpha Romeu do ano, etc) quebrou a ponto de não ter onde morar, reza a lenda que ainda deve perto de 1kk na praça, hoje vive aparentemente feliz num apartamentinho no centro e nem carro tem, trabalha de garçom num bar onde o encontrei semana passada. Um outro que também foi rico nos anos 90 e perdeu tudo para o triatlo puta/cachaça/jogo virou evangélico, largou os vícios e hoje está mais rico que antes. Uma coisa que vejo em comum entre todas essas histórias é que a pessoa está mais feliz hoje que antes, parece que a quebra foi um rito de passagem, algo que fez a pessoa se desenvolver.

Toda essa volta pra chegar no seguinte ponto: essa blindagem que criei contra quebra financeira pode estar me privando de um desenvolvimento pessoal interessante. Calma! Não estou falando que vou dar um jeito de perder tudo o que tenho, não é isso! Ultimamente tenho pensado que pode ser interessante assumir riscos maiores, não sei como eu poderia fazer isso de maneira a equilibrar risco e meu sentimento de anti-quebra, mas gostaria de assumir riscos maiores, sentir o frio na barriga de estar fazendo algo arriscado... Quando comprei a primeira loja a 10 anos atrás eu senti uma alta adrenalina que me fez muito bem na época, era algo muito legal ir dormir pensando no que eu estava arriscando e vislumbrando um futuro legal lá na frente. O futuro chegou, a adrenalina abaixou e hoje me sinto de boca aberta cheia de dentes esperando a morte chegar.

Sou jovem! Com minha idade meu pai nem tinha chegado ainda no auge financeiro, depois que isso aconteceu ele ainda quebrou e se levantou algumas vezes, começou e terminou alguns negócios; só foi atingir a estabilidade financeira na 3ª idade. Porra! Por que tenho que ser super conservador se ainda tenho saúde, condicionamento físico e, modéstia a parte, capacidade mental de aprender mais coisas? Meu pai tem muitos defeitos, mas uma coisa é certa: ele jamais parou de tentar, nunca ficou um dia em casa esperando o governo dar uma bolsa merreca ou um vizinho vir ajudar. Se ele errou, foi pelo excesso, não pela omissão. O mesmo acontece com as outras pessoas com histórias similares, o padrão é sempre tentar, independente do resultado, tentar...

A gente planeja demais, pesquisa demais, quer saber os detalhes de algo antes de entrar, quer saber 464984654965 casos de sucesso antes de fazer algo diferente, revira a internet de ponta cabeça, faz até pesquisa em chinês pra no final ficar na mesma. Quantos de vocês já passaram por isso? Aposto que a maioria. Numa era pré internet as pessoas arriscavam mais, a informação era escassa e por mais que você pesquisasse, os detalhes seriam descobertos somente após tentar.

Tenho um bom histórico de loucuras grandes na vida que deram certo: 100% de aproveitamento! Primeiro foi a compra da primeira loja, eu tinha uns 10% do capital necessário e 0% de experiência no que tinha que encarar pela frente. Arrisquei e deu certo! Segundo foi meu casamento: Bia e eu fomos morar juntos sem pensar muito, decidimos tudo em 3 ou 4 dias, não pensamos nas consequências, não fizemos buscas na internet, não sabíamos o que teríamos pela frente. Deu super certo! Portanto se eu for olhar pra trás, tenho obrigação moral de arriscar mais... Quantas e quantas pessoas da minha idade já arriscaram tudo mais de 2 vezes e estão aí, com uma grande experiência de vida... Preciso criar vergonha na cara!!!