quarta-feira, 31 de maio de 2017

Mudar de País? Sim, Mas Agora Não

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Durante boa parte da existência do blog venho falando de como o Brasil é uma bosta e da minha vontade e planos para emigrar, agora volto aqui e digo que não quero emigrar agora... justo agora que tenho uma situação financeira legal e nenhum vínculo no Brasil que me segure por aqui, afinal vendi minhas lojas e minha família e amigos resume-se a Bia e o cachorro. Controvérsia? Não necessariamente...

Minha opinião sobre o Brasil em nada mudou, continuo achando um péssimo lugar pra se viver e não vou entrar nesses detalhes agora (até porque qualquer pessoa com 2 neurônios consegue perceber isso). Brasil é um lixo, brasileiro é uma praga. Ponto final. Acontece que a minha vida no Brasil não tão ruim, aliás nem posso dizer que é ruim, pelo contrário, vivo uma vida maravilhosa em terras tupiniquins.

Não existe nada físico que me prenda no Brasil, não tenho mais lojas, não tenho apego familiar algum, não tenho amigos, não tenho "um lugar que amo", nada disso; porém a vida não é somente coisas materiais/pessoas, a vida vai além disso... Bia e eu decidimos ficar mais alguns anos no Brasil por alguns motivos:

1- PROFISSIONAL: ano passado após vender as lojas realizei dois trabalhos na minha área de formação (aos recém chegado, reservo o direito de não dar maiores detalhes sobre no que me formei). Um dos trabalhos foi voluntário e o outro temporário (ganhando uma "merreca" (num post futuro falo mais sobre essa "merreca")). Resumo da ópera: aos 30 e tantos anos, quase 10 anos após formado eu pude finalmente trabalhar naquilo que estudei e que gosto, foi uma das experiências mais fantásticas da minha vida! Pra quem a vida inteira trabalhou 100% por dinheiro ter a oportunidade de trabalhar com algo que realmente sente tesão foi sensacional. Conheci um monte de gente nova, aprendi muito (absurdamente muito) todos os dias, me senti feliz por conseguir ajudar pessoas através do meu conhecimento (fico imaginando como deve ser gratificante para profissionais como médicos e mecânicos cujo trabalho é 100% conhecimento em prol de outras pessoas), fiquei muito feliz em receber feed back positivo, etc.

Na minha idade tenho consciência que nem tudo são flores e que não é possível imaginar que um trabalho full time será tranquilo como um voluntário ou temporário. Também sei que pessoas carniças estão aí por todos os lados tentando foder com a vida dos outros, entendo que todos os trabalhos no mundo tem prós e contras, comigo não é diferente. Bom, o lance é o seguinte: quero dar oportunidade a mim mesmo, trabalhar na minha área de formação durante algum tempo, sentir a "brisa" de fazer algo legal novamente. Durante anos da minha vida repeti que trabalho é uma merda e que quem diz ama trabalhar é doente. Continuo concordando em partes, trabalho é sim uma merda quando você não tem realização pessoal alguma com aquilo, mesmo ganhando muito dinheiro. Quem diz amar trabalhar e coloca trabalho na frente de tudo é sim doente, mas quem faz um trabalho com tesão e o tem de maneira saudável encaixado dentro da vida é afortunado.

Tenho 30 e tantos anos, me formei a quase 10 numa uniesquina da vida, tenho praticamente nenhuma experiência profissional, meus possíveis chefes serão todos mais jovens que eu, mesmo assim tenho a oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. Sou abençoado por isso e seria um grande desperdício não aproveitar essa oportunidade. Se eu emigrasse agora jogaria essa chance na lata do lixo porque com certeza daqui 5 anos essa oportunidade não mais existirá. Você pode falar: "Ah Corey! Você pode exercer sua profissão em outro país, você pode fazer diferença no mundo e atingir essa brisa em outro lugar, fazendo outra coisa". Sim, é verdade, aliás parcialmente verdade. Nem vou entrar no mérito da questão da equivalência de diploma (coisa extremamente difícil e muitas vezes impossível) mas o fato é um só: a oportunidade que sempre quis está aqui bem na minha frente, por que caralhos jogar isso fora e arriscar em algo trabalhoso e sem certeza de sucesso?

Nada me impede de ficar por aqui, agarrar uma oportunidade profissional bacana e daqui uns anos quando a "brincadeira" perder a graça me mando pra outro lugar. 30 e poucos anos não é idade pra pendurar as chuteiras.

2- PREGUIÇA: sou preguiçoso e minimalista. Durante muito tempo me enganei pensando coisas do tipo: "vou pro Canadá, estudo inglês, faço um college, arrumo um sponsor e me legalizo", ou: "vou pros EUA, abro uma filial da minha empresa brasileira pelo L1, trabalho duro e em 2 anos tenho green card". Bullshit! Sou preguiçoso pra caralho pra encarar um desafio desses. Tiro meu chapéu pra quem o faz, mas não é comigo, não tenho mais saco pra recomeços sofridos. Quando emigrar será de maneira tranquila, sem problemas com documentação nem esforços sobre-humanos, quero ir tranquilo, arrumar um trabalhinho e ficar de boa, sem sofrimento.

O estilo de vida minimalista te faz ter pensamentos minimalistas e práticos. Se quero trabalhar com algo que posso fazer aqui no Brasil por que vou sofrer pra burro pra emigrar e ainda por cima ficar com a cabeça no "ah, eu deveria ter ficado no BR e trabalhado na minha área..." Não faz sentido! Não vou fazer algo somente pra não me contradizer ou pra afirmar que meus planos estavam certos e que sempre estive certo em querer sair do país. Mudo de opinião mesmo, foda-se!

3- VIDA BOA: a verdade é que Bia e eu temos uma vida bem tranquila tanto do ponto de vista financeiro quanto prático. Atingimos a IF, a renda passiva convertida em Euro seria mais que suficiente pra morar em Portugal, por exemplo, mas aí ficaríamos a mercê de câmbio, uma preocupação que não tenho morando aqui no Brasil. Por aqui continuaremos trabalhando e não mexeremos na renda passiva, aliás é até capaz de rolar aporte.

Nossa vida é tranquila, podemos morar numa kitnet que seremos felizes (aliás, mais felizes que nesse apartamento enorme de 60m² que vivemos hoje), nos blindamos da violência e inveja através da prática da camuflagem: andamos de transporte público, temos celulares de 400 reais, carro de 22 anos, nada de roupas da moda, nada de comentar com "amigo" e parente sobre nossas conquistas financeiras... Enfim, passamos batido na multidão, ninguém é capaz de dizer que temos a situação financeira que temos. Veja que esse comportamento não é forçado, ou seja, não fazemos essas coisas buscando a camuflagem e sim o contrário, fazemos porque é assim que gostamos de viver, a camuflagem é efeito colateral, logo não é esforço algum nos mantermos dessa maneira o que nos deixa tranquilos com a situação. É óbvio que acho revoltante você ter que se camuflar de pobre pra não se foder e conseguir sobreviver no Brasil. Penso assim: meu carro de 22 anos me atende muito bem e sou feliz com ele mas se você quer ter uma BMW 2018, tem dinheiro pra isso, consegue mante-la, então tem todo o direito de te-la! Aliás, tem mais que comprar mesmo! Para uma pessoa assim o Brasil já se torna mais hostil, mas pra mim que sou simplão a situação não é tão ruim...

No Brasil você tem que achar alguma maneira de sobreviver. Alguns andam de carro blindado e moram em fortalezas, outros se misturam com os pobres. Ambos os casos são táticas de sobrevivência para ter uma vida boa mesmo vivendo nesse buraco.

4- MARGEM DE ERRO: certa vez ouvi o seguinte: "O Brasil é um bom lugar pra se viver porque aqui você sempre tem uma margem de erro que utilizada para o bem pode deixar sua vida mais fácil". A margem de erro na minha opinião tem a ver com o maldito "jeitinho" porém nesse caso ele não é tão maldito e pode ser utilizado para o bem. Durante anos da minha vida tentei combater o jeitinho e a margem de erro brasileira, o que ganhei com isso? Dois princípios de infarto, gastrite, sobrepeso, dores de cabeça, irritabilidade, revolta e pessimismo. Brother, aqui nessa porra ou você se adapta e usa o jeitinho ao seu favor ou você morre. Simples assim.

A margem de erro brasileira é algo institucional e governamental. Tudo é feito contando com essa margem. Durante todos os anos de empreendedor eu ganhei dinheiro utilizando dessa margem de erro. Seja brechas que o governo deixa, seja coisas "ilegais" mas que todo mundo faz e depois de um tempo nem lembra que não é permitido, "taxas de urgência" que as próprias agências governamentais cobram pra agilizar processos, etc. Antes que venham meter o pau pergunte a si próprio: em quantas placas de PARE você já parou na vida? Nos EUA se você não para num STOP você leva multa e dependendo da situação até vai pra corte... Ascensoristas, cobradores de ônibus e frentistas de posto são profissões realmente necessárias? Não, óbvio que não, mas existem devido ao governo. Vai dizer que o cara que vai trabalhar de frentista está errado em aceitar a vaga? Claro que não! Ele só está aproveitando uma brecha do governo! O mesmo vale pra funcionários públicos que quase na totalidade ganham mais e produzem menos. Estão errados? Claro que não! Mais uma vez estão aproveitando a margem de erro do Brasil. Entendeu onde quero chegar? O Brasil deixa brechas porque sem elas não se vive.

Várias pessoas podem questionar: "Mas Corey, e a situação política? Isso aqui tá uma bagunça". Sempre esteve e sempre estará, estou cagando e andando para o que acontece na política, quem rouba ou deixa de roubar, quem paga propina pra quem, que partido está no poder, etc. É tudo farinha do mesmo saco e uma amostra da população brasileira. Desde que minha vida esteja boa quero que o resto se foda, é egoísmo mesmo mas não vejo porque pensar diferente.

Enfim, resumindo, fico no Brasil mais alguns anos porque sou preguiçoso pra emigrar agora, tenho uma "missão" profissional por aqui e vou continuar aproveitando as facilidades de viver por aqui mas sem nenhuma ilusão que isso aqui vai melhorar.

sábado, 27 de maio de 2017

O Fim do Corey Empreendedor

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Tem coisas na vida que são bem engraçadas, fiquei 2 meses sem aparecer por aqui, decidi postar avisando que os posts iriam demorar a voltar e agora, 1 mês depois reapareço novamente... Juro que não sabia que essa fase off ia durar tão pouco, rsrs! Como disse, vontade de escrever vai e vem, acho que veio novamente...

Hoje vou falar do fim do Corey como empreendedor, isso mesmo, não sou mais microempresário e nem pretendo ser novamente, claro que não digo "dessa água não beberei", mas no atual momento e circunstâncias não tenho o menor tesão em voltar a empreender.

Buteco fechado!
Não cheguei a publicar abertamente aqui no blog, mas pra quem acompanha e juntou os pontinhos percebeu que ano passado eu havia vendido minhas lojas, naquele momento eu tinha 3 lojas e após vende-las, tirei um sabático onde viajei bastante o que justifica a longa pausa que fiz no blog no ano passado. Além disso fiz trabalho voluntário (ou quase voluntário) na minha área de formação, o que foi uma experiência sensacional, pela primeira vez trabalhei com algo que realmente gosto. No fim das viagens e do trabalho na minha área eu tinha que fazer algo da vida, para que não ficasse louco ... As opções eram basicamente 3: imigrar, arrumar um emprego na minha área de formação ou empreender novamente. Imigrar perdeu bastante do brilho, já comentei aqui no blog, arrumar um emprego na minha área era a ideia mais excitante mesmo sabendo que o contracheque seria uma merreca, empreender não dava muito tesão mas foi isso que fui fazer... Fiz novamente 100% pelo dinheiro, puta que pariu, como sou idiota, eu não "preciso" de mais dinheiro, não havia porque arriscar dinheiro, tempo e um boatload de energia em algo com grande risco e retorno incerto, sendo que não precisava desse retorno. Maldita ganância e olho maior que a boca! Me fodi, de leve, mas me fodi. Pela primeira vez na vida perdi dinheiro num negócio, poderia ser muito pior e fico feliz por isso!

Caralho, eu alcancei a independência financeira, não há motivo pra arriscar e me foder com algo que não tenho prazer em fazer somente pra ganhar mais dinheiro, isso porque a perspectiva de ganho nem era tão boa assim... Fui um idiota! Enfim, o negócio foi finalizado, amarguei um prejuízo, perdi 1 ano da minha vida (essa é a parte mais dolorida), mas vou recomeçar do ponto onde parei ano passado. Bia e eu estamos de volta a estaca zero mas temos muito planos bem interessantes para o futuro, nesse exato momento estamos num pequeno sabático e em breve decidiremos que rumo daremos a nossas vidas. Uma coisa é fato, a ideia de voltar a empreender é algo assustador, que dá azia só de pensar. Nem pensar quero passar novamente pelo sufoco que passei nos últimos meses.

Não me leve a mal, durante mais de 5 anos tenho falado aqui no blog que empreender é uma excelente maneira de fazer dinheiro, mas também nunca escondi que é uma das atividades mais frustrantes e consumidoras de saúde que podem existir. Não se trata de cuspir no prato que comeu mas se você destrói sua saúde física e principalmente mental em troca de uma boa grana que você realmente precisa pra atingir seus objetivos, acaba sendo justificável. Porém a partir da hora que sua saúde está sendo consumida e nenhum dinheiro está entrando, brother, saia fora desse barco furado! Não posso cuspir pra cima, 100% do meu capital aportado veio de um jeito ou de outro do fato de empreender: ou foi grana de aporte periódico, fruto dos lucros das lojas ou (principalmente), lucro da venda de lojas. Empreender valeu muito a pena se você colocar na média. Tive negócios excelentes, outros médios e um péssimo, mas a média foi muito boa. Posso falar que obtive sucesso como empreendedor, o que não quer dizer que vou continuar nesse caminho.

Nunca neguei que sou preguiçoso, não tenho muita paciência pra fazer coisas complexas (mais um motivo pra eu não ter filhos), jamais senti tesão em "colocar toda energia num projeto". Faço mais o tipo "deixa a vida me levar", gosto de viver de maneira simples (posts sobre minimalismo no forno...), trabalhar pouco... Essas características não combinam com empreendedorismo, durante anos tampei o sol com a peneira, me esforcei pra ser diferente, mas não tem como, a gente não esconde nossa real personalidade por muito tempo. Ao menos de agora em diante posso me dar ao luxo de ser um vagabundo, preguiçoso e enrrolão.