segunda-feira, 29 de julho de 2019

Não Pulei da Ponte

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Bom dia, boa tarde, boa noite à todos, como estão? Antes de mais nada gostaria de agradecer por todas as mensagens no último post, meus leitores são fodas, fico muito contente por poder contar com vocês que me aconselharam, compartilharam suas experiências e me ajudaram na fase complicada onde estava metido. Muito obrigado mesmo, do fundo do coração! Estou aqui, não pulei da ponte Vasco da Gama.



Hoje vim aqui pra atualizar a situação, contar como as coisas correram nesses últimos dois meses desde que vim aqui todo fudido e deprimido. Na verdade não aconteceu nada de diferente, porém parece que as coisas vão se ajeitando na minha cabeça. Desde que comecei a tomar anti-depressivo me sinto bem melhor, parece que consigo pensar com um pouco mais de clareza e racionalidade, outra coisa que tem me ajudado muito são as longas caminhadas que tenho feito aqui na cidade, parece que sair andando ouvindo música ou algum vídeo (salvo em MP3 o áudio de alguns vídeos que tenho interesse e depois ouço no carro ou durante as caminhadas) me ajuda muito a colocar as ideias no lugar. Estou melhor mas longe de estar bem, grande parte do que estava sentindo na altura que escrevi aquele post ainda acontece porém em menor escala e talvez de maneira mais controlável. Não tive mais crises de ansiedade nem dores sinistras na cabeça, também (graças a Deus!) não broxei mais, rsrs. Aliás algo que venho notado é uma oscilação estranha em certos aspectos: tem dias que não consigo dormir direito mesmo tomando melatonina, outros durmo pra cacete; tem dias que estou com zero desejo sexual e em outros estou subindo pelas paredes de tesão; o mesmo acontece pra fome. Obviamente não estou 100%.

Continuo me sentindo mal e culpado por ter meus pais sozinhos no Brasil, por ter abandonado minha profissão, por ter camadas e camadas de complexidade pra resolver devido ao fato de morar no exterior. O que balanceia isso tudo é a vida tranquila e segura que tenho aqui, o business da Bia que está indo muitíssimo bem e o fato dela estar contente por morar aqui (embora esteja sendo uma
santa por me aturar chato pra caralho), porém sei que isso não é sustentável no longo prazo e que provavelmente voltaremos mesmo ao Brasil.

O que me deixou bem pra baixo nesses dois meses é a questão do meu diploma. Corri atrás, gastei dinheiro, passei raiva, mandei emails, enfim, fui atrás de resolver isso mas sem muito sucesso. Documentos da faculdade brasileira continuam dificeis de sair, informações muito desencontradas e extrema má vontade das faculdades portuguesas que podem fazer o reconhecimento. No meio do
caminho um leitor aqui do blog comentou que passou por uma experiência muito semelhante e jogou a toalha após 2 anos, pessoas em grupos de validação de diploma no exterior relatam o mesmo. Cheguei até a mandar currículos para as empresas na tentativa de conseguir um emprego na área
mesmo sem validação da licenciatura. Nada. Parar minha vida 5 anos pra "tirar o curso" novamente não me parece ser muito viável (mais abaixo). Ainda tem água rolando por baixo dessa ponte, mas está cada vez secando mais...

Nesses últimos dois meses tenho pensado muito sobre alternativas à toda essa bagunça que me enfiei e talvez a única conclusão que cheguei é que preciso de algo desafiador que coloque meu cérebro pra trabalhar. Pensei em tocar o projeto de fazer outra faculdade mas como disse acima, não acho viável por várias razões:

1- O curso superior na minha área possui processo seletivo (como se fosse um vestibular) que engloba matérias que não tive no ensino médio Brasileiro, seria necessário estudar à parte pra passar nisso, sem contar que nem o português brasileiro costuma ser aceito (não respeitam muito o
acordo ortográfico por aqui). Outra alternativa seria usar o Enem que nunca fiz e mesmo se tivesse feito não poderia usa-lo como Italiano, sendo assim teria que pagar as "propinas" (mensalidades) como brasileiro. Sem processo seletivo me resta o equivalente aos cursos técnicos que existem no Brasil onde após 4 anos eu poderia exercer função inferior, com salário também inferior.

2- Parar 4 ou 5 anos da minha vida pra no fim das contas ser um profissional estrangeiro acima de 40 anos sem experiência não me parece muito legal. Difícil saber se isso seria um problema ou não porém é algo que devo ponderar.

3- Financeiramente 4 ou 5 anos comendo minha renda passiva pra viver fará um rombo mais pra frente quando estiver velho e precisar dessa grana pra viver. Não posso jamais esquecer que Bia e eu teremos uma velhice solitária e que seremos totalmente dependentes da gente mesmo (efeito
colateral de não ter filhos).

4- No frigir dos ovos os problemas relacionados à nossos pais envelhecendo no Brasil continuaria e não pode ser mudado.

Esse número 4 também é o principal fator que me impede de tentar alternativas como mudar pra Inglaterra antes do Brexit e tentar algo novo que nem sei ao certo o que, o outro motivo é que Bia não tem a mínima vontade de aprender inglês e fica completamente surtada na ausência de sol. Assim como ela abriria mão de viver aqui em Portugal onde se adaptou bem e tem um business com
números invejaveis, eu abro mão de morar na Inglaterra por ela. Casamento é isso, dois se tornam um só.

Uma alternativa de "desafio cerebral" que tenho pensado muito nos últimos tempos é algo que quem me acompanha a mais tempo irá dizer: "Eu sabia!". Tenho pensado em empreender novamente caso retorne ao Brasil. Empreender aqui em Portugal é fora de questão porque não vejo onde nem como, também não vale a pena investir no negócio da Bia porque é algo bem atípico e que não vira melhor com mais investimento. Por outro lado empreender no Brasil ainda pode ser uma boa ideia, ainda mais fazendo de maneira racional e com pensamento no longo prazo. Basicamente minha ideia seria trabalhar mais um tempo na minha área, sugar o máximo de conhecimento possível e empreender em algo relacionado com foco no longo prazo. Se antes eu empreendi para ganhar no "trade" das lojas, hoje penso em ter um negócio para a vida. Algo pequeno, que não exija muito de mim, que permita longas ausências mas que ao mesmo tempo tenha minha cara. Um projeto de vida mesmo, algo como nunca fiz antes.

Estou lendo um livro muito interessante e que tem me ajudado bastante na formatação dessa ideia, chama-se "Company of One: Why Staying Small Is the Next Big Thing for Business", o título é auto-
explicativo e tem tudo a ver com minha filosofia de vida minimalista. Farei um resumo aqui no blog quando terminar de ler, até para meu próprio estudo posterior. (uma série de posts sobre um novo negócio seria do caralho, não?). Tenho estudado bastante sobre estoicismo (sugestão de alguém aqui no blog) e tem me ajudado muito.

Então é isso, provavelmente voltarei ao Brasil, não tenho um prazo certo mas o que penso é insistir no lance do diploma até o fim do ano, se um milagre acontecer e conseguir trabalhar na área seria legal devido à experiência diferente, mas já não penso como algo pro resto da vida, já não acho que ficaremos aqui por muito tempo. De qualquer maneira estou juntando uma grana no Brasil para me reestabelecer e enquanto isso vou tocando por aqui, aproveitando o que Portugal me oferece. Esses dias Bia e eu fizemos uma viagenzinha de verão e foi gostoso pra desbaratinar a cabeça mas não fiquei com vontade de viajar mais, conhecer mais, sei lá... as coisas mudam.

Mais uma vez agradeço à todos que me ajudaram e fiquem a vontade pra comentar, fazer críticas e sugestões. Abraço!