sábado, 14 de junho de 2014

Jejum de Internet

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Sumi, mas estou vivo! Decidi fazer jejum de internet, fiquei uma semana somente acessando e-mails, nada de blogs, nada de Youtube, nada de pesquisas na Wikipedia, nada... Decidi fazer essa experiência por achar que estava perdendo tempo demais com internet e que grande parte do "conhecimento" que adquiro na rede é totalmente desnecessário para meu dia-a-dia. Estava certo!

Desde que deletei meu Facebook ano passado tenho notado que coisas que julgamos totalmente necessárias nem sempre são assim. Nesse um ano sem Facebook percebi que continuo tendo contato com os mesmos amigos de sempre, que não tenho o menor interesse se Fulano está tomando Skol ou Budweiser, se fulana "partiu academia" ou se os Beagles foram ou não jogados na rua. O conteúdo de Facebook é totalmente desnecessário e digo mais, só serve para piorar a vida de uma pessoa porque você recebe um enxurrada de informação desencontrada, opiniões violentamente parciais, enfim, toda sorte de coisas que não agrega em nada. De vez em quando dou uma pescoçada quando a Bia está fuçando no seu (não consegui convence-la de abandonar Face/Insta/Twitter) e só vejo desgraça, denúncias redundantes de corrupção, fotos de gatos em situações engraçadas, etc. Não consigo ver valor nisso tudo.

Nessa última semana sem internet me dei conta que aquela curiosidade urgente como saber a divisão geográfica das Ilhas Virgens, nada mais é que curiosidade, não preciso ficar ansioso pra descobrir. Nos anos 90 esse tipo de curiosidade passava batido e se realmente persistisse eu teria que buscar na Barsa da escola ou escrever para a Superinteressante e rezar para ser respondido. Assistir aos vídeos dos Youtubers que moram nos EUA é divertido, mas me faz ficar com ainda mais raiva do Brasil, como não conseguirei fugir desse país tão cedo, preciso manter minha indignação dentro de limites que me permitam continuar vivendo aqui de maneira salubre. Não acompanhei meus feeds de notícias e isso não fez a menor diferença na minha vida.

Também não acompanhei a blogosfera, confesso que essa foi uma das partes mais difíceis, mas resisti. O contato com o pessoal daqui é muito legal, mas consegui ficar distante. Fiquei muito chateado ao voltar hoje e saber da notícia do alagamento da loja do BBB. Infelizmente esse é um dos vários desafios que um empreendedor tem que enfrentar, portanto pense 10x antes de criticar e invejar seu patrão por ele ter um Audi, só ele sabe o que teve que passar para andar com um carro bom ou folgar numa quinta feira.

Durante esse período de jejum de internet consegui ler um livro completo (hábito que eu tinha abandonado esse ano por achar que não tinha tempo) e estudei o dobro de inglês. Sai aqui no bairro, a pé, para andar sem destino (coisa que adoro fazer), encontrei uma padaria ótima com preços decentes, conheci um pessoal que pratica crossfit na praça (sim, eu sei, essa é a nova modinha da classe-média-alta, mas e daí, é legal pra caramba!), conversei em inglês com gringos perdidos, andei de bicicleta pela cidade enquanto a Galinha Pintadinha Claudia Leite cantava na abertura da copa, doei sangue, fui trabalhar de bicicleta duas vezes, passeei muito com o cachorro... Enfim, descobri que existe vida fora da tela de um laptop!!!

Não vou fazer isso pra sempre, foi uma experiência, mas com certeza investirei melhor meu tempo daqui pra frente. Não sei quando voltarei a postar aqui no blog porque estou sem ideias, aceito sugestões para posts, ok? Recomendo que todos passem por essa experiência de vez em quando, vale muito a pena!

domingo, 1 de junho de 2014

Aprendendo com a Southwest Airlines

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

A Southwest airlines é uma das principais companhias aéreas dos Estados Unidos, foi possivelmente a empresa que espalhou o conceito de low-cost que hoje tanto falamos, em mais de 40 anos de operações eles revolucionaram muitos aspectos não só no mercado aeronáutico.

Lição nº1-  Inovação: Fundada nos anos 70, a Southwest inicialmente servia cidades no Texas, a revolução começou por aí, como as cidades eram relativamente próximas, as pessoas que precisavam se deslocar entre elas normalmente utilizavam carros ou trens, no começo da companhia, muitos voos saiam com poucos passageiros. A empresa conseguiu convencer os passageiros a utilizar seus serviços através de tarifas bem baixas em troco de um serviço simples, foi o começo da simplificação do transporte aéreo que até então era cheio de frescuras (vamos ser francos, aviões são máquinas fantásticas, mas não passam de um meio de transporte rápido porém desconfortável). Não sou praticante da inovação nos meus negócios, mas como veremos a seguir, a Southwest inovou mas também adotou outras práticas bem peculiares.

Lição nº2 -  Copie sem medo: A empresa não se fez de rogada no começo de suas atividades ao copiar descaradamente procedimentos utilizados em outra companhia, a PSA, como oferecer tarifas baixas, manuais de treinamento de tripulação, etc. Acredito que toda receita de sucesso deve ser copiada, se possível melhorada ou diferenciada e pronto, um modelo de negócio pode ser implementado, na minha opinião a inovação é para poucos e agindo racionalmente, é besteira tentar reinventar a roda, vejam o caso da Apple, tem produtos "revolucionários" mas sem inventar nenhum!

Lição nº3 -  Não entre em guerra de preço: Certa vez uma companhia concorrente decidiu oferecer vôos em determinado trecho por 13 dólares, a Southwest cobrava 26, logo os clientes começaram a sumir, o que fizeram? Diminuir as tarifas significaria entrar em guerra de preços e possivelmente quebraria a empresa no médio prazo, ao invés disso, passaram a oferecer garrafas de bebida como brinde aos passageiros que comprassem o bilhete pelo preço cheio. Cada garrafa custava menos que o valor da diferença da passagem e rapidamente os passageiros migraram novamente para a Southwest, a medida ainda serviu como marketing.

Lição nº4 -  Saiba virar uma situação ruim a seu favor: A Southwest mudou seu slogan e uma pequena empresa aérea a processou por usar um slogan similar ao seu, ao invés de brigarem na justiça os presidentes das duas empresas decidiram disputar o controle do slogan numa competição de braço de ferro, sim, isso mesmo que você leu! O perdedor permitiria que o ganhador usasse o slogan e ainda doaria uma quantia a instituições de caridade. O presidente da Southwest perdeu, doou o dinheiro para caridade e o presidente da outra empresa permitiu que ambos usassem o slogan. Mais dinheiro foi levantado para a caridade ao vender ingressos para a bizarra competição. Inteligência! Todos ganharam publicidade e ainda ajudaram quem precisava. Outra vez, logo no começo das atividades, foram obrigados a vender um de seus aviões para quitar dívidas, com um avião a menos, precisavam decolar mais rapidamente, inventaram procedimentos mais rápidos que diminuíram o tempo de espera do avião no finger de 40 para 10 minutos, padrão que até hoje é utilizado pela maioria das empresas.

Lição nº5 -  Economize muito dinheiro com padronização: A Southwest usa somente um tipo de avião, o Fusca dos céus, o Boeing 737, são aliás a maior operadora desse avião no mundo. Foram os primeiros a padronizar frota, com isso racionalizaram o treinamento dos pilotos, mecânicos, estoque de peças, ferramentas, kits de manutenção, etc. Essa ideia é válida para tudo na vida, sempre que você consegue padronizar alguma coisa, com certeza terá um ganho financeiro. Quer um exemplo idiota porém eficaz: uso somente um tipo de meias, as brancas compradas em pacotes no Wal Mart, quando uma fura, jogo-a fora mas conservo o outro pé, quando fura outra, junto as duas remanescentes e um novo par de meias ressurge das cinzas. Imagine o mesmo efeito com peças caríssimas de aviões...

Lição nº6 -  Não exagere na manutenção preventiva: Esse tópico pode ser um pouco temerário, mas na prática dá certo. A Southwest tem fama de usar seus aviões além do limite da vida útil, já foi inclusive multada por isso, ao mesmo tempo nunca teve um acidente fatal (houveram 2 mortes envolvidas com eles, mas nenhuma fruto de acidente) em mais de 40 anos de atividade, sendo que fazem mais de 3400 voos por dia e cada um de seus 600 Boeing 737 fazem em média 6 voos diários. Acredito que embora a obsolescência programada seja algo bem real, há casos que sempre dá pra esticar o uso de determinado produto. Aprendi ainda adolescente com um velho amigo taxista que sempre dá pra atrasar a troca do óleo do carro em 20% de quilômetros, desde meu primeiro carro faço isso, além de trocar o filtro de óleo somente em trocas de óleo alternadas, nunca tive problemas de motor! O mesmo serve para outras peças como fluido de freios e de radiador, já usei um carro tirado zero por 60.000km somente trocando óleo, fazendo alinhamento, balanceamento e rodízio (para conservar os pneus). Sei que isso é errado, portanto, não tente fazer isso em casa, ok crianças?!

Lição nº7 -  Cada centavo conta muito: A Southwest não serve refeições, somente snacks e bebidas não alcoólicas como água e refrigerantes, isso é compreensível já que a maioria dos seus voos são curtos e todos são domésticos (iniciarão voos para o Caribe e América do Sul em breve). Certa vez o diretor de marketing propôs trocar os saquinhos de amendoim (até então o único snack servido) por barras de chocolate Snickers, o presidente retrucou dizendo que o chocolate custaria 0,38 a mais que o amendoim, disse o número de passageiros servidos e mandou o marketeiro fazer as contas. No fim, o Snickers não foi aceito mas cada passageiro poderia pegar 2 saquinhos de amendoim. Sinceramente não sou defensor da economia a nível de centavos, estou numa fase onde valorizo mais qualidade que preço, mas é fato que para uma companhia que briga por preço, contar os centavos é muito importante. Por outro lado, combato com todas as forças o desperdício.

Lição nº8 -  O cliente sempre tem razão... só que não!!! A Southwest não puxa saco de cliente, ao contrário das outras companhias aéreas que nos anos 80 só faltavam oferecer sexo oral a seus clientes, eles nunca deram muita bola pra reclamações de passageiros, acreditam que são como o Mc Donalds, que não possui a melhor comida, mas quem vai até lá e se propõe a pagar aquele preço baixo, sabe o tipo de hamburger que receberá em troca, portanto não tem muito direito de exigência. Concordo totalmente, o que mais vejo são clientes querendo levar vantagem em cima de empresa, basta entrar no ReclameAqui e ver o nível de reclamações, já vi caso de um cidadão reclamando por não conseguir entrar num bar que já havia encerrado o expediente, vá pra merda!

Lição nº9 -  Valorização de funcionário é uma das chaves do sucesso: A Southwest já foi eleita várias vezes como a melhor empresa aérea para se trabalhar, possuem uma das menores rotatividades do setor, seus funcionários não são sindicalizados (possuem associação própria que os defende) e muitos possuem décadas de empresa, além disso são lembrados pela simpatia, alegria e por terem certa liberdade em suas funções. É normal ver comissários dando instruções de segurança em forma de rap, outros perguntado antes do embarque se os passageiros se alimentaram (fazendo piadas deles mesmos que não servem comida a bordo), outros organizam competições de karaoke durante os voos, pilotos fazem mágicas pra entreter os passageiros dentre outras bizarrices. No 9/11 um piloto pagou com seu próprio cartão de crédito as passagens de trens de alguns de seus passageiros que estavam loucos para reencontrar suas famílias mas não tinham dinheiro. É mais importante dar ouvidos aos funcionários que aos clientes e manter um ambiente agradável de trabalho é obrigatório para a saúde de qualquer empresa.

Lição nº10 -  Agressividade faz parte do capitalismo: Muitas técnicas capitalistas podem sofrer contestações éticas, porém fazem parte do jogo. Quando seu maior mercado ainda era o Texas, a Southwest usou de técnicas de lobby político para repelir a construção de um trem de alta velocidade que ligaria as cidades por ela servidas. A ferrovia não saiu do papel. Foram os primeiros a utilizar edge nas negociações de combustíveis, pegaram tanto o jeito da coisa que começaram a especular o que rendeu alguns processos na justiça. Tenho sérios problemas com esse tipo de técnica, sou careta demais para implementar coisas que corriqueiramente meus concorrentes fazem ou outros comerciantes fazem, esse é um dos motivos que me chateiam na vida de empreendedor. De maneira alguma critico que faz esse tipo de coisa, desde que não seja ilegal, acho válido e o jogo capitalista é dos mais espertos, mas infelizmente (ou não) não nasci pra jogar.

Gosto muito de ler sobre empresas de sucesso e tentar entender o porquê que se sobressaem da concorrência e chegam ao topo, podemos tirar muitas lições para nossas vidas pessoais ou profissionais, aprender com o acerto e principalmente o erro dos outros nos faz ganhar tempo e dinheiro.

Para saber mais sobre a Southwest consulte: http://en.wikipedia.org/wiki/Southwest_Airlines  e procure um excelente documentário do Discovery sobre ela (não achei o link).