terça-feira, 31 de outubro de 2017

Updates do 200tão e Divagações sobre Conquistas

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Dia 2 de setembro fiz um post pedindo a ajuda dos leitores sobre o que eu poderia fazer com 200k que estaria pra receber. A história desse dinheiro é a seguinte: o comprador de uma das minhas lojas demonstrou vontade de adiantar boa parte das parcelas que ainda tem para me pagar, disse que estava fechando a venda de outra loja e que gostaria de negociar um abatimento em troca do adiantamento de parcelas. Confesso que não me animei muito com isso, afinal teria que dar um belo desconto em prol de tal adiantamento que, na minha opinião, não seria legal, afinal eu prefiro receber em parcelas porém um valor maior. Esses 200k representariam quase 300k parcelados segundo a proposta dele, o que não mudaria muita coisa numa contra-proposta. Resumo da ópera: a venda da outra loja dele não vingou e por enquanto não terei os 200tão na mão, continuando assim, recebendo as parcelas mensais.


Alguns podem pensar: mais vale um pássaro na mão que dois voando e sou desses, sou cagão e troco dinheiro por segurança e paz de espírito. Porém esse caso é diferente, conheço a honestidade da pessoa (sou dos que ainda fazem negócios pelo fio do bigode), conheço o fluxo de caixa da empresa, sei que as parcelas serão pagas e que um calote só viria num armagedom do mercado (o que também é algo a se considerar...). Acontece que o dinheiro que ainda tenho a receber da negociação das lojas é talvez o último grande dinheiro que eu veja na vida, é a grana que será usada pra comprar meu caixão, portanto quanto mais, melhor. Mesmo se um dia volte a empreender provavelmente não conseguirei tal montante pelo simples motivo que não tenho mais saco e saúde pra assumir riscos fortes em troca de altas rentabilidades, outro motivo é que nosso salário mesmo sendo o dobro do valor necessário para manter nosso padrão de vida, não é o suficiente pra criar uma soma interessante no curto prazo.

O risco de esperar para receber é um risco que aceito correr. Muitos podem pensar: "Corey, pega esse dinheiro, investe em X, Y ou Z e você recuperará o desconto em pouco tempo...", porém como sempre digo, só entro em negócio que conheço e por conhecer a loja (afinal foi minha por diversos anos), a maneira da pessoa trabalhar, seus funcionários e o mercado consumidor, acredito que o risco de esperar pra receber é bem razoável. Para quem olha de fora isso tudo pode parecer surreal, mas pra quem está por dentro é factível. Vou dar outro exemplo: quando algum blogueiro diz que ganha 100 dólares (ou 1000 dólares) por mês com ad-sense ou quando alguém diz que vive de projetos digitais eu custo a entender como isso é possível. Muitos olham o empreendedorismo de fora e também não entendem como alguém se dispõe a correr o risco de calote esperando uma empresa administrada por uma pessoa  pagar prestações mensais durante anos. Estranho, mas dentro da minha zona de conforto.

Veja que quando criei o blog, em 2012, eu havia acabado de sair das dívidas, vendido a primeira loja e meu patrimônio era um apartamento de 40m², um carro popular de 3 anos de uso e 10k na poupança. Em menos de 8 anos comprei outras lojas, vendi, comprei, vendi, comprei, vendi, comprei, quebrei a cara, vendi e estou com conforto financeiro. Foram esses rolos de empresa e o bom momento do país que peguei que me proporcionaram a IF que tenho hoje, dificilmente os astros se alinharão novamente dessa maneira. Sou muito grato e contente com o que consegui conquistar nesse curto espaço de tempo. Muitos comentam que eu sou um fracassado, afinal estou trabalhando de empregado enquanto tempos atrás era empresário (já desisti de explicar as razões disso), dizem que me acho um vitorioso mas na verdade não conquistei grandes coisas. Digo que pra aquilo que fui treinado (ou seja, pra nada), pelo nível de conhecimento técnico sobre empreendedorismo que adquiri, pela grana que investi e pelo curto espaço de tempo que tive, sou sim um vitorioso e sou muito grato por tudo o que conquistei.

Bia e eu temos 30 e poucos anos, se daqui pra frente conseguirmos apenas empatar nossas receitas e despesas, se conseguirmos não perder o dinheiro que ganhamos durante os anos de empreendedor e com a venda das lojas, se apenas fizermos isso, já será o suficiente pra ter uma velhice tranquila. Sou extremamente grato aos Deuses e forças superiores (you name it!) por isso. Um tonto, sem formação empresarial alguma, vindo de uma família metida a besta porém pobre, desestruturada e sem histórico de sucesso, conquistar o que conquistei?! Sou muito feliz!!!

domingo, 15 de outubro de 2017

Classe Média, iPhone e Tesla

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor. 

E, nó que somos conscientes financeiramente, podemos dizer que um casal que ganha mais de 20k por mês e não é milionário é uma dupla de imbecis completos. Trabalho com PÓS DOUTORES que são analfabetos financeiros e não sao milionários.

A classe média é um antro de otários.
O comentário acima foi postado no meu último post sobre a cesta básica (observação: não me canso de dizer que o nível das pessoas que comentam por aqui é altíssimo, mesmo com um hater ou outro a grande maioria das pessoas contribui para uma discussão saudável e agregadora, assim como ocorreu no último post. Como membro da classe média brasileira, sou obrigado a concordar com o anônimo.

Vamos ser justos, esse lance de classe média ser burrona e fazer cagada financeira em cima de cagada não é de hoje e não é exclusividade de Brasil, até onde me recordo, sempre foi assim. Lembro-me muito bem que 20 anos atrás, o Corey pré-adolescente estudante de escola particular ouvia histórias horripilantes do tipo:

1- Meu próprio pai estava desempregado (a palavra correta seria desocupado porque o velho nunca teve um emprego, sempre foi empreendedor) e devendo até as cuecas nos cartões de crédito, ao conseguir se desfazer de um terreno (provavelmente perdendo dinheiro na negociação) invés de quitar suas dívidas achou melhor dar entrada num carro zero quilômetro e em outro terreno, ou seja, ganhou mais 2 dívidas. Algum tempo depois estávamos a pé novamente e o tal segundo terreno foi tomado pelo antigo proprietário. Conclusão: o status de andar de carro zero era mais importante que não ter dívidas.

2- O pai de um amigo da escola, conhecido picareta da cidade, tinha uma "empresa" de transporte de cargas (?), cansado de andar de Kombi foi na concessionária Chevrolet mais próxima e comprou uma Silverado top de linha (250k em dinheiro de hoje?) em provavelmente 87426732653263 prestações. Meses depois meu amigo reclamava que o banco malvado-porco-capitalista tomara a tal caminhonete do pai dele. Meu amigo jamais deixou de usar roupas de marcas.

3- Um parente próximo, então com 20 e tantos anos, ganhou uma empresa da mãe. Ali estava seu futuro, a tal empresa está lá até hoje firme e forte porém o rapaz achou melhor vende-la e torrar a grana com maconha, farinha e turbo pro Gol Gti. Esse deu sorte, duas tentativas de suicídio depois, conseguiu se formar numa faculdade que presta e trabalha na área ganhando seus 10k.

Hoje em dia pouca coisa mudou, o que mudou mesmo é o acesso à informações e os ingredientes da receita de fracasso da classe média, indubitavelmente um dos principais alicerces da quebra classe-mediana mundial chama-se iPhone. Amigo leitor proprietário de iPhone, desculpe a sinceridade mas a simples decisão de ter um aparelho desses é sim um elemento que chama atenção para os reais objetivos da sua vida.

Não existe motivos para alguém comprar um aparelho de telefone que custa MIL DÓLARES, MIL DÓLARES, MIL DÓLARES, MIL DÓLARES!!!  Mil dólares é dinheiro pra C-A-R-A-L-H-O nos EUA!!! Mil dólares é absurdamente muito dinheiro no Brasil!!! Se você tem um iPhone, ok, não condeno, cada um compra o que quer, faz o que quer com o seu dinheiro porém pelo amor de Deus, não tente justificar, não existe justificativa racional além do simples "tenho porque quero ter". Essa é a melhor resposta que você pode dar...

Sim, sou radical. Você pode explicar que o tal aparelho tem um processador XYZ que de tão foda é capaz de rodar 6235235734 aplicativos ao mesmo tempo, que tem uma câmera capaz de fazer um vídeo em cinemascope, qualidade de áudio suficiente pra tocar um baile funk no posto de gasolina de Heliópolis. Não adianta, tudo isso não muda o fato de você carregar o valor de um carro dentro do bolso quando existe opções muito competitivas por 1/10 do preço e repito: isso diz muito sobre o cuidado que você tem com seu dinheiro.


Mas se olhando a classe média brasileira e seus iPhones já é um estudo de caso de psicologia humana interessante, tudo fica ainda pior quando você olha a classe média americana.

O americano médio é nada mais nada menos que uma pilha de dividas, o cara já nasce fudido, se endivida mais ainda durante a faculdade (com os college loans) e quando está com seus 30 e poucos anos, ganhando six figures e com dívidas de seven finalmente atinge seu ápice e compra o maior símbolo da torra de dinheiro já inventado pelo homem:
Por apenas USD 75k, na concessionária Tesla mais próxima



Sim, um Tesla é está para o americano como o iPhone está para o brasileiro. É um símbolo de status de classe média que tenta justificar a todo custo o porquê de ter uma porra dessas. Claro que você precisa de um Tesla, ou você vai ficar queimando petróleo e destruindo o mundo? O carro é extremamente econômico, o custo por milha é ínfimo (não importa o quanto você pagou pelo carro) e o Musk vai salvar o planeta dessas empresas antiquadas que vendem carros a gasolina. A Tesla é a empresa mais valiosa do mundo (foda-se que nunca deu lucro, vende um produto só e tem concorrentes por todos os lados), etc, etc, etc.

Se você chegou à esse blog é possível que, assim como eu, você seja capitalista, porém como sempre digo não é porque você é a favor do capitalismo que se afundará nele. Fique do lado capitalista que ganha dinheiro, não do que gasta. Admiro muito Apple e Tesla, são empresas sensacionais quando o assunto é evangelização, diria que são duas das igrejas mais poderosas do mundo. Não seja fiel delas, não seja tonto! Deixe-os ganhar dinheiro com quem é pobre, deixado-os mais pobres. Pare com essa besteira de trocar coisas por modelos mais novos, aceite pequenas imperfeições nas coisas (leia sobre wabi-sabi), troque quando quebrar, compre na medida que você precisa...

A classe média é sim muito besta, é possível e muito possível viver muitíssimo bem abrindo mão desses símbolos de status idiotas que só servem para arrancar dinheiro do seu bolso. Se você quer ser rico, esqueça Teslas e iPhones, foque em ganhar e investir em ativos. Isso que estou falando é muito óbvio porém as vezes o óbvio está na frente de nossos narizes e não enxergamos, faça parte de uma elite, a elite que tem tranquilidade financeira, que pode se dar ao luxo de perder o emprego, de trocar de carreira, de país e mesmo assim não afetar a vida. Esqueça coisas, esqueça essas tranqueiras todas que seus colegas de trabalho, a internet, o Facebook tenta te enfiar a qualquer preço, gaste dinheiro com coisas que prestam: ativos, educação, experiências de vida. Não torre com porcarias caras. Não é fácil ser rico, mas é muito simples não ser pobre.

Voltando ao comentário do anônimo: um casal que ganha 20k pode e deve ser milionário em pouco tempo. Um casal que ganha 20k vive MUITO bem com 7k, investe 13k em 10 anos... Faça suas simulações.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Como uma cesta básica mudou minha vida

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Pela primeira vez na vida recebi uma cesta básica. A empresa onde estou trabalhando implementou esse benefício recentemente e acabo de receber a primeira. Confesso que essa foi uma experiência muito interessante e que serviu para abrir ainda mais minha cabeça, veja o porquê.

Durante minha vida toda por alguma razão acreditei que receber cesta básica é assinar o atestado de fracasso. Não me pergunte o porquê disso mas na minha cabeça cesta básica era coisa de gente fodida, de empregado chão de fábrica, dos níveis hierárquicos mais baixos possíveis (como se isso fosse um defeito). Durante meus anos de empresário nunca sequer passou pela minha cabeça dar esse benefícios aos meus funcionários, afinal de contas, eles ganhavam acima da média, muitos tinham carro, pagavam seus apartamentos, enfim, não eram pobres, "claro que se sentiriam ofendidos se eu desse cesta básica", o mais humilhantes dos benefícios! EU TINHA UM PUTA PRECONCEITO INCONSCIENTE SOBRE CESTAS BÁSICAS. Não havia sequer parado pra pensar no assunto!

Quando fui informado que receberia mensalmente uma cesta básica minha cabeça explodiu, num primeiro momento senti algo ruim, como um soco na cara pra me acordar que minha vida virou, não sou mais empresário e que agora sou somente um peão que recebe cesta básica, quase um homeless. Num segundo momento comecei a raciocinar, percebi que meus colegas de trabalho ficaram contentes com a ideia de receber esse benefício, olhei em volta e vi que todos agiam com naturalidade diante tal novidade. "Caralho, como podem estar contentes com isso? Meu Deus, quem recebe cesta básica é fracassado", meu subconsciente falou.... Num terceiro momento a ficha caiu e percebi que não há absolutamente nada de errado em receber uma cesta básica, que na verdade ela não passa de um aumento de salário porém amarrado à "compra" de alimentos, não é nada além disso!

Senti vergonha de mim mesmo, logo eu que sou uma pessoa tão desprovida de preconceitos idiotas (ou pelo menos acreditava ser), que é aberta à novas ideias e experiências de vida, que deliberadamente trocou a segurança e status de empresário por um relógio de ponto e cesta básica... justo eu tendo um ataque involuntário de preconceito contra uma simples caixa de papelão com itens alimentícios dentro! Ridículo! Me sinto envergonhado até de escrever isso por aqui...

Quando escrevi sobre a bolha da classe média muita gente criticou dizendo que estava fazendo apologia à pobreza, que é impossível viver de maneira simples, que é hipocrisia viver abaixo do nível que se pode pagar, etc. Acredito que essas pessoas sofrem do mesmo mal que me levou a ter esses pensamentos negativos sobre cestas básicas, esse mal tem a ver com a maneira pela qual fomos criados, por essa maneira tão esquizofrênica que nossa sociedade vê status. Vivemos numa sociedade apodrecida, somos apodrecidos por nossos pais que quase sempre nos blindam da realidade do mundo. Viver preso à bolha da classe média é ainda mais maléfico que o imaginado...

Esse episódio da cesta básica me fez concluir que estou a anos luz do desenvolvimento mental que desejo ter. Uma coisa tão simples e besta me mostrou que tenho muito, mas muito mesmo o que aprender. Se eu, uma pessoa que já viajou bastante, teve contato com várias culturas e costumes diferentes, que vive no meio de "minorias" (e por isso mesmo não aceita coitadismo gay-preto-nordestino-pobre), que 99% das vezes segue caminhos completamente opostos que meus pares, que é com certeza tido como louco na sociedade ainda sofre de preconceitos e pensamentos idiotas, imagino o que as pessoas enraizadas, que moram na casa onde nasceram, que trabalham na mesma cidade e emprego a vida toda possam pensar...

Falando sobre a cesta básica em si, acabei descobrindo que terei uma economia de alguns reais nas compras mensais e que ao mesmo tempo conseguirei fazer caridade mensalmente com o excesso ou com produtos que não usamos em casa. É só isso! Não houve um Armagedom, não me tornei mais pobre por receber cesta básica... muito pelo contrário, ela me deixou mais rico por ajudar a economizar uns reais todos os meses no supermercado. A mente humana é uma coisa muito louca!