terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Minimalismo ou Pobreza?

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Uma das coisas mais interessantes de ter um blog é ver o rumo que o papo leva nos comentários de cada post. Você escreve sobre algo e quando menos espera os comentários enveredaram para um rumo completamente diferente do esperado. Isso as vezes é ruim porque acaba desvirtuando o assunto principal do texto mas outras vezes acaba agregando muito para a discussão e faz surgir assunto para outras postagens.

Meu último post, sobre Recomeçar do Zero, foi exatamente assim, comentários interessantes surgiram e fizeram levantar novas reflexões, é sobre isso que vou falar hoje.

Sempre que cito o minimalismo aqui no blog parece que surge uma turma contra esse estilo de vida, eu os nomearia de Anti-Minimalistas. Essas pessoas argumentam que o que chamo de minimalismo é na verdade Pobreza e que resumindo eu vivo uma vida de merda. Outro assunto sempre tocado é o fato de eu ter uma "pseudo-independência financeira" porque minha vida de 4k por mês é uma bosta, sem aventuras e que minha renda passiva malemá cobre o básico. Vou começar falando um pouco (novamente) sobre o que é independência financeira para mim:

INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA (IF): é quando uma pessoa tem ativos financeiros que geram renda suficiente para cobrir suas despesas, ou seja, a pessoa tem a OPÇÃO de não trabalhar e mesmo assim suas despesas serão pagas.

Você pode ter um conceito diferente de IF, porém, creio eu, esse é o conceito utilizado pela maioria das pessoas aqui na blogosfera. Veja que o conceito de "despesas pessoais", como o próprio nome diz, é algo totalmente pessoal, ou seja, cada um tem o seu. Gasto dinheiro todo mês com meu cachorro, se você não tem cachorro, não gastará dinheiro com cachorro, entende? Perceba também que uma vez atingida a IF existe a OPÇÃO de parar de trabalhar. Muitos me agridem verbalmente por eu ter escolhido continuar a trabalhar após a IF e pior, por ter escolhido ser empregado após atingir a IF. Novamente, entenda que isso são opções que cada um faz dentro da sua realidade. EU, Corey, escolhi arrumar um emprego por diversos motivos: trabalhar na minha área de formação, fazer network, aperfeiçoar conhecimentos técnicos, ter uma ocupação, não precisar mexer no rendimento dos meus investimentos, etc. Ao contrário da esmagadora maioria das pessoas eu tenho total liberdade de deixar meu trabalho assim que quiser pelo simples fato de ter atingido a IF, portanto essa é uma escolha 100% minha.

Voltando ao assunto minimalismo eu até entendo o porquê de certa ojeriza com o termo. Pesquise minimalismo no Google ou YouTube e você encontrará o seguinte perfil de pessoas e conteúdo:
  • Mulher, na faixa dos 30 e poucos anos, com forte tendência feminista. Sites com fotos de paisagens de desertos, árvores com neve, praias desertas, moradias de paredes brancas, com poucos ou nenhum móvel. Essas mulheres usam leite de magnésia como desodorante, vinagre no lugar de amaciante de roupas, possuem "armário cápsula", roupas monocromáticas, são quase sempre veganas (e como todo vegano/socialista/feminista são torcedores da causa).
Até eu que sou mente aberta tenho certo asco de coisas assim.

É preciso entender que o minimalismo que prego é o "minimalismo raiz". O que seria o minimalismo raiz? Fácil de entender, é o minimalismo orgânico (no sentido de ser algo natural, sem forçação de barra), aquele minimalismo que muito provavelmente seus avós adotavam mesmo sem sequer ter ouvido falar do termo. Perceba que a velha guarda na maioria das vezes fazia pouca ou nenhuma dívida, ia criando patrimônio ao longo dos anos e não amparado em empréstimos bancários, vovô comprava um Fusca ou Corcel e com esse ficava até morrer, morava numa casa simples de poucos cômodos (normalmente 3 quartos: 1 para o casal, 1 para os meninos e outro para as meninas), com chão de cimento queimado vermelho ou na melhor das hipóteses cerâmica também vermelha que vovó lustrava com cera Poliflor. A família tinha o costume de "guardar 10% do salário" que pode parecer pouco mais é algo simples e eficaz. Existia a preocupação de "fazer pé de meia", normalmente com imóveis de locação. Vovô trabalhava fora e vovó além de criar os filhos tinha também alguma fonte de renda: costurar ou lavar roupa pra fora, fazer marmitas, etc. Grande parte das famílias com esse perfil acabou por levar uma vida tranquila porém com muito trabalho e indubitavelmente com formação de patrimônio.

Vovô e vovó eram minimalistas embora possam parecer pobres. Não eram pobres, nunca faltou comida e remédio para os filhos, tinham televisão e um carrinho na garagem. Alguns dos filhos provavelmente até se formaram na faculdade.

Pobre pra mim é quem vive um degrau acima do que pode, independentemente da renda. Minimalista é a pessoa que vive um degrau abaixo, independentemente da renda. Simples assim! Perceba que não estou falando valores, você pode ser pobre com uma renda de 10k, e minimalista com uma renda de 3k ou de 20k.

Vivo com menos que minha renda, não preciso dos rendimentos dos investimentos pra viver. Levo um padrão de vida confortável e de acordo com minha necessidade.
  • Tenho um carro "bosta" com mais de 20 anos de idade mas porque trocaria se ando não mais que 2.000 km por ANO? Na verdade faz mais sentido vende-lo e ficar sem carro... 
  • Moro num apartamento de 60m² que considero enorme, já vivemos em 30m² com muita tranquilidade. Por que precisaria de mais? Somos um casal com poucas coisas e um cachorrinho. 
  • Meus móveis são "bostas" comprados nas Casas Bahia. Pra que mandar fazer um super armário planejado se moro num imóvel alugado?
  • Todas minhas roupas cabem numa mala carry-on. Por que comprar mais se no dia-a-dia uso uniforme, em casa roupas velhas e confortáveis e saio com pouca frequência?
  • De eletrônicos tenho um celular de 400 reais e 2 anos de uso, uma TV 42" e um laptop i3 com 4 anos. Eles atendem à minha necessidade, pra que comprar mais?
Percebem onde quero chegar? O minimalismo está na necessidade, cada pessoa tem uma necessidade diferente e precisamos entender duas coisas: minha necessidade é diferente da sua e as vezes o que achamos necessários na verdade não é. Não tem nada a ver com pobreza e sim com necessidades.

Outra crítica que recebi é o tal "zero". No texto citei que recomeçaria do "zero" com renda familiar combinada de 7,5k e fui criticado por isso não ser necessariamente zero, que deveria ter feito o planejamento com salário mínimo. Veja bem, o objetivo foi estimular as pessoas à pensarem em estratégias de saída caso precisassem recomeçar suas vidas e novamente, aqui é tudo muito pessoal, cada um tem objetivos diferentes, vontades diferentes e rendas e situações empregatícias diferentes. Hoje estou no "fundo do poço" da renda familiar e esse fundo do poço é 7,5k. Bia e eu ganhamos pouco porque decidimos trabalhar pouco (que tem a ver com carga de trabalho e stress, não com tempo de trabalho). Somos sortudos por ter uma renda razoável mesmo com pouco stress no trabalho. Isso é fruto das nossas escolhas profissionais, temos trabalhos relativamente bem remunerados (para os padrões brasileiros) e com pouca oferta de profissionais.

Continuo dizendo que o minimalismo, no sentido de ter uma vida simplificada e coisas e despesas dentro do NECESSÁRIO, é a chave para o sucesso de qualquer pessoa. Mantenha sua vida um degrau abaixo do que poderia estar, cuide para não extrapolar o necessário e terá sucesso independente da sua renda. A vida é simples, não complique.

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