segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Mitos Imigratórios

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Tudo na vida possui mitos, muitos são realistas, outros nem tantos mas devemos prestar atenção em todos quando decidimos tomar alguma decisão. Nesses últimos 2 anos tenho pesquisado muito a respeito de imigração para países desenvolvidos e concluí que existem vários mitos que são comumente aceitos mesmo por aqueles que estão pensando em emigrar e fazem pesquisas extensivas sobre o assunto. São os mitos que todo mundo acredita, hoje gostaria de levantar alguns desses mitos e minha opinião a respeito. Como acabei de dizer, é a minha opinião, o meu ponto de vista o que de maneira alguma representa a verdade. Se você não concorda ou possui fontes da verdade, por favor, contribua de maneira construtiva nos comentários.

MITO NÚMERO 1: É FÁCIL EMIGRAR PARA O CANADÁ

Isso parece mais verdade que 2+2=4, é algo impregnado na cabeça das pessoas. Quando o assunto é imigração, todos repetem: "vá para o Canadá, é fácil emigrar legalmente pra lá, conheço pessoas que foram e estão muito bem e documentadas..." Será mesmo? A resposta pode ser tanto sim quanto não. Sim porque no passado recente, coisa de 5 anos atrás era relativamente fácil para uma pessoa com bom nível de escolaridade emigrar para o Canadá, bastava certa experiência na função, um nível razoável de inglês, juntar a papelada e as chances eram bem razoáveis. Vários brasileiros emigraram para as terras do Norte sem ao menos conhecer o país, chegaram lá documentadas. Esse é o caso do casal Dimitri e Fabiana do canal do Youtube "Canadá Diário". Outras pessoas foram estudar inglês, usufruíram de uma antiga lei que dava visto de trabalho a estudantes de inglês, trabalharam e conseguiram emigrar oficialmente através do "Work Experience Class", um programa canadense de imigração muito popular. Infelizmente isso não é mais possível, agora somente estudantes de college que estudem em instituições públicas canadenses (que são pagas e caras) possuem direito a visto de trabalho, assim como seus cônjuges. O processo federal pelo qual Dimitri e Fabiana emigraram foi completamente reformulado, ficou mais ágil porém mais exigente. Se o cara não cursou uma universidade top, não tem nível avançado de inglês, bastante experiência na área, nem é jovem as chances de emigrar pelo processo federal (Express Entry) são bastante irrisórias. Se você é como eu, um profissional meia boca formado por uma Uniesquina e que não sabe usar o Present Perfect, amigo, esqueça, será praticamente impossível você emigrar. Existem 1001 processos imigratórios provinciais, mas basicamente é tudo a mesma coisa.

Logo, concluo que emigrar para o Canadá é sim fácil pra quem é altamente educado, possui muita experiência e sua área é informática, engenharia ou medicina. Do contrário, esquece, o Canadá é pouco receptivo a você. Isso porque nem levantamos a questão dos investidores e profissionais de baixa qualificação, aí mermão, as chances são praticamente nulas. Antes o Canadá tinha um programa de startups para investidores estrangeiros cujo investimento era na casa dos CAD 200 mil, parece que não existe mais. Desconheço qualquer outra forma de imigração por investimento. Além disso o governo canadense é extremamente arisco no que diz respeito ao trabalho ilegal. Foi pra lá com visto de turista, ficou fora de status, arrumou um trampo de entregar pizza, polícia te parou. Cara, você está completamente fodido, todas suas chances de permanecer no país foram por água a baixo. Digamos que você tem status de estudante e descola um bico pra ajudar a pagar o tuition do college, cara, você também terá problemas porque é preciso provar de onde a grana vem, se você está trabalhando ilegal, eles podem até aceitar a grana mas no futuro você terá problemas pra se legalizar. E aqui fica o gancho para o próximo mito.

MITO NÚMERO 2: É LOUCURA FICAR ILEGAL NOS ESTADOS UNIDOS

Grande parte dos imigrantes que moram nos EUA são os chamados "ilegais", dentro desses é preciso separar dois grupos: aqueles que entraram pelo México e que realmente estão "meio fodidos" caso não morem na Califórnia e os "fora de status" que são aqueles que entraram com visto, seja de estudante ou de turista ou outro qualquer mas ficaram além da expiração de seus prazos de saída do país. Outros não estão fora de status, são turistas dentro da permanência legal ou estudantes, mas trabalham sem visto de trabalho. Vamos por partes.

O pessoal que pulou a fronteira é considerado fora da lei por burlar a legislação americana e literalmente invadir o país. Esses normalmente possuem pouco ou nenhum direito, digo normalmente porque na Califórnia, o estado camarada dos imigrantes, eles podem tirar carteira de motorista, abrir conta em banco e no passado até fazer hipotecas de casas. Milhares dessas pessoas estão nesse exato momento limpando privadas, entregando pizzas, abrindo valetas em obras, limpando casas... Eles ajudam a mover a economia americana, muitos estão ricos, muitos ganham mais dinheiro que o americano médio. Acontece que se eles forem parados pela policia por qualquer motivos, as chances de deportação são gigantescas, mesmo que estiverem trabalhando de boa sem causar problemas, afinal, em última instância eles são criminosos.

O segundo grupo são aquelas pessoas que entraram pela porta da frente, ou seja, pelo aeroporto, com algum tipo de visto. Essas pessoas foram aceitas nos EUA e não cometeram crime algum. Estudantes no geral não podem trabalhar legalmente no país (existem exceções mas são raras e difíceis de acontecer), turistas menos ainda. Porém assim como os puladores de fronteiras, existem milhares de turistas e estudantes trabalhando nos EUA. Eles costumam fazer o serviço pesado e ganham muito bem por isso. Aqui entra o mito. A verdade (por fontes americanas) é que é raridade uma dessas pessoas ser deportada por estar trabalhando. A polícia comum não tem comunicação com a polícia de imigração, e a realidade real bem realista é que americano precisa dos imigrantes sem papel por diversos motivos, entre eles:

  • O americano médio é preguiçoso e se recusa a pegar no pesado mesmo se for pra ganhar mais, logo a latinaiada, brasileiraida, chinesada chega lá encarando qualquer trabalho. Se esse povo todo for embora, não vai ter quem abra buraco em obra, entregue pizza nem limpe casa
  • Imigrantes recebem "Under the table", ou seja, por fora, sem declaração. Ou você acha que americano gosta de pagar imposto?
A polícia faz vista grossa pros imigrantes trabalhadores e que não arrumam confusão. Em diversos estados existem verdadeiras cidades de imigrantes que, caso eles quisessem deportar, teriam que fretar navios pra isso. É o caso de Newark em New Jersey cuja população é praticamente toda de brasileiros e portugueses e também de Boston onde é praticamente uma "Nova Governador Valadares" tamanha a quantidade da mineirada dessa cidade por lá. Você realmente acredita que o governo americano não sabe disso?

O governo também oferece privilégios para essa galera sem papel: é possível tirar uma espécie de CPF americano (Tax ID Number) pelo qual o cara pode pagar imposto de renda. Veja, o governo combate tanto os imigrantes que dá a eles o direito de pagar impostos o que pode contribuir positivamente para um futuro processo imigratório. Além disso com esse tax ID number é possível abrir uma empresa totalmente legal no país, oferecer serviços para outras pessoas jurídicas, emitir nota fiscal. Mais uma vez, você acha que o governo americano não sabe dessa "brecha"? Em grande parte dos estados o imigrante pode tirar driver licence (carteira de habilitação) que é o documento mais importante por lá, é usado pra tudo desde dirigir até comprar bebida alcoólica embarcar em vôos domésticos. Isso mesmo, o imigrante fora de status pode viajar de avião dentro dos EUA sem o menor problema. Qual a chance do TSA (polícia dos aeroportos americanos) não saber o real status imigratório de uma pessoa? Não se esqueçam que estamos falando de EUA, o país mais xereta do mundo. 

O tão mal falado sistema de saúde americano é outra falácia, muita gente se fode de verde e amarelo (ou seria de vermelho e azul?) com medical bills gigantes porque são relaxadas a ponto de não pagarem plano de saúde, mesmo tendo condições. Lá o governo não é mamãe e papai que toma conta de você, a parada é outra: você ganha dinheiro, logo você paga por tudo. Muito simples! Se você for um imigrante, fora de status, pobre e sem condições de pagar um seguro saúde, mesmo assim você não está totalmente desprotegido. O estado de Massachusetts tem um sistema de saúde pública muito bom e praticamente de graça e mesmo nêgo que pulou a cerca e entrou pelo México pode aplicar (e deixam os cidadães do estado putos da vida de sustentarem pessoas que muitas vezes ganham mais que eles mesmo, o que vamos e venhamos está errado)

Então concluo que se o governo federal aceita os impostos do imigrante sem documento, a polícia não os prende pelo simples fato de estar trabalhando e tocando a vida, a população precisa dessas pessoas, logo o mito de que viver fora de status nos EUA é uma furada está parcialmente quebrado.

Parcialmente porque claro, nem tudo são flores, embora o governo americano seja brother e feche os olhos pra você que se apaixonou tanto por Orlando que foi visitar o Mickey, nunca mais voltou e hoje entrega pizza de madrugada com seu Corolla 99 de mil dólares, você enfrentará vários problemas entre eles:
  • Ao menos que você tenha um visto de estudante válido você não poderá deixar o país e retornar em seguida, você levará uma vida muito boa mas será um "prisioneiro" dentro dos EUA. Se deixar o país, bye bye EUA, serão ao menos 10 anos sem ao menos ter o direito de tentar o visto novamente. Esse no meu mode de ver é o grande (e talvez o único) problema de ser fora de status nos EUA. Imagine se um familiar morre e você simplesmente não pode dar adeus ou apoiar a família mesmo tendo dinheiro pra isso?
  • Você terá problemas pra quase tudo (o que não quer dizer que não conseguirá resolve-los com grana): pagará mais caro por aluguel (principalmente depósitos caução), mais caro por planos de celular, muito mais caro por financiamento de carros ("absurdos" 10% ao ano nas lojas de usados que vendem pra quem não tem papel), dificilmente conseguirá hipotecar uma casa. Agora entra o lance da inteligência financeira, se você é inteligente, nada disso será problema porque você simplesmente não faz dívidas, paga tudo a vista.
Esse lance de ser "cidadão de segunda classe" e sofrer preconceito é muito relativo. Após conversar com muitos brasileiros e latinos que moram nos EUA concluí que isso é 100% algo da cabeça da pessoa assim como acho que preconceito contra gays, negros e nordestinos também vem da pessoa (tenho uma cara de cearense inconfundível e não dou a mínima para "preconceitos"). É algo 8 ou 80, ou a galera é cuca fresca e tira de letra possíveis situações embaraçosas ou são 100% neuróticas e veem preconceito em tudo.

MITO NÚMERO 3: É MUITO DIFÍCIL EMIGRAR LEGALMENTE PARA OS EUA

No mito 2 falamos da galera que vai para os EUA com o único objetivo de trabalhar e ser feliz sem depender muito da legalidade. Aqui vou falar do outro lado, daqueles que querem ir legalmente para os EUA. O mito é que imigrar legalmente para os EUA é dificílimo. É verdade?

Sim e não, sim porque os programas de imigração americanos são muito complexos, exigem altas somas financeiras, advogados e acima de tudo muita paciência. Não porque apesar de complexos, eles são acessíveis a um monte de gente.

É possível ir legalmente através de investimentos menores que USD 100 mil se você for cidadão de um país que tenha acordo comercial com os EUA (visto E2). O Brasil não está na lista mas Itália, Espanha, Japão entre outros estão o que abre uma porta para aqueles brasileiros com dupla cidadania. Se você for brasileiro vira latas como eu, sem ascendência européia direta, mesmo assim é possível emigrar com um investimento relativamente baixo (na casa dos USD 100 mil) através do visto L, tudo bem que é algo bem complexo, é preciso manter uma empresa no Brasil, provar 1001 exigências... Pode não ser viável (como concluí não ser pra mim) mas possível é. 

Se você tiver bala na agulha e não tiver dó de "emprestar" USD 500 mil ao governo americano (sem receber praticamente nada em troca do ponto de vista financeiro), você e sua família terão um tapete vermelho e green cards esperando no aeroporto americano mais próximo da sua casa, as simple as this.

Se você pulou a cerca, fez alguma cagada, foi deportado mas casar com um cidadão americano. Mermão, mesmo após fazer uma bosta atrás da outra você terá direito de morar nos EUA. Se você estiver fora de status e casar com americano, seu status é ajustado e a primeira coisa que você recebe na sua casa dias após o casamento será sua permissão de trabalho, podendo trabalhar no Mc Donalds mais próximo a 8 dólares a hora sem o menor problema.

Os EUA são uma mãe para os imigrantes, essa é a verdade!


MITO NÚMERO 4: AUSTRÁLIA E NOVA ZELÂNDIA SÃO MOLEZA PRA EMIGRAR

Esse não chega a ser um mito dependendo do ponto de vista. Na minha opinião o buraco é mais em baixo. Austrália e Nova Zelândia possuem diversos programas de imigração, grande parte deles sendo bem acessíveis, eu diria que eles estão hoje como o Canadá de 5 anos atrás, não é preciso ser um crânio pra imigrar legalmente pra lá. Mas... como tudo que é fácil, tem um lado ruim e na minha opinião esse lado ruim é bem ruim por diversos motivos, entre eles:
  • O idioma da Austrália não é inglês, aquilo é "autralianês", puta que pariu como é diferente, seja em relação a sotaque fortíssimo ou em relação a vocabulário. Todos os americanos que conheço dizem sentir extrema dificuldade pra conversar com Australianos, o mesmo para os Kiwi (pessoal da NZ). Como crescemos com a influência do inglês norte americano, e pouco do inglês britânico, entender e aprender o inglês da Oceania é um desafio. Isso pode ou não ser um problema.
  • Distância. Em 8 horas e mil reais é possível chegar de Miami em São Paulo. Experimente fazer Sydney ou Wellington - São Paulo... 5 conto de passagem e uma viagem possivelmente fatal para aqueles que voam de classe econômica. Isso faz muita diferença. Visitar o Brasil, a família e amigos, é algo muito fora da realidade de quem mora do outro lado do mundo. Tenho 3 amigos morando naquelas bandas, todos se mudaram no início dos anos 2000, somente um visitou o Brasil em uma única ocasião nesses 15 anos. Lembre-se do exemplo da morte do familiar. O cara que mora na Florida pode chegar no Brasil rapidamente, e o cara que mora na NZ?
  • Fuso horário. Muita gente pode argumentar que com Whatsapp, Skype e Facebook não existe razão pra se preocupar com a distância. Porém, é dificílimo manter contato ao vivo mesmo por mídias sociais com o pessoal que mora na Oceania. O fuso horário complica demais, o cara que mora em Adelaide vai almoçar e socializar pelo Facebook as 14h, o que são 2 da manhã por aqui... É osso...
Então se por um lado emigrar pra Oceania é menos complexo do ponto de vista burocrático, há outros fatores importantes que devem ser considerados.


Bom, o texto ficou longo, espero que tenha sido de utilidade para aqueles que assim como eu possuem ideia de mudar de país. 

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