quinta-feira, 5 de julho de 2018

Trabalho em Portugal

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Hoje vou falar sobre um tema que muitos estão curiosos: como Bia e eu arrumamos trabalho e como é trabalhar em Portugal. Vou dividir em duas partes, trabalho da Bia e meu trabalho, mas antes vou dar uma pincelada nas minhas primeiras impressões sobre trabalho assim que chegamos no país.

Nos primeiros dias que chegamos à cidade andamos muito a pé para desbravar e nos localizar geograficamente, nessas andanças vimos muitos comércios precisando de funcionários, plaquinhas de "precisa-se de empregado de mesa" estavam em quase todos os restaurantes. Era a preparação para o verão, onde aumenta o movimento nesses estabelecimentos.

No Mc Donald's percebemos que o papel que vem na bandeja na verdade era uma ficha de cadastro para emprego e que haviam diversos banners com referência à trabalho espalhados pela loja. Em todos os mercados de rede haviam placas referentes aos processos seletivos, nos grupos de Facebook da cidade pipocavam propostas de emprego dos mais variados: garçom, ajudante de cozinha, entregadores diversos, vendedores de loja, etc.

Nós não estávamos esperando arrumar trabalho rápido, tanto que havíamos programado algumas viagens curtas antes de começar a trabalhar, então deixamos passar todas essas oportunidades porém isso nos alegrou, seria Portugal tão ruim de trabalho como pintam?

Trabalho da Bia

No terceiro dia em Portugal, fomos numa "loja de chinês" (lojão popular, tipo 1,99) e conhecemos uma brasileira que lá trabalha. Papo vai papo vem, a brasileira perguntou se a Bia já tinha algum emprego em vista porque lá na loja estavam contratando e se caso ela quisesse poderia conversar com a gerente naquele momento mesmo. Bia ficou meio sem ação porque jamais esperava tal proposta, disse que ainda tinha que resolver a documentação, agradeceu e disse que se necessário voltaria para uma entrevista.

O fato de vir para uma cidade pequena fez com que nossa documentação saísse rápido, cerca de 40 dias já estávamos com tudo na mão e então decidimos que seria a hora de começar a procurar algum trabalho, afinal não sabíamos quanto tempo iria demorar para achar.

Bia decidiu fazer um teste e enviou um in-box para uma das propostas do Facebook, era um restaurante, vaga de "empregado de mesa" (garçom). No dia seguinte foi fazer uma entrevista e no outro dia faria um teste, chegou até a comprar roupa para trabalhar. Acontece que nesse mesmo dia da entrevista ela estava passeando aqui perto de casa quando decidiu entrar numa empresa do ramo de trabalho dela no Brasil, somente para conhecer. Como Bia é muito conversadeira, comentou que fazia aquele trabalho no Brasil, que tinha tanto tempo de experiência, blá, blá, blá... Saiu de lá contratada. Salário bom, de segunda à sexta, vai à pé (ou de carona, depende da unidade onde trabalha no dia).

Trabalho do Corey

Quando chegamos no país alugamos um carro por 30 dias, a ideia era comprar o nosso dentro desse tempo. Comecei à ver carros em lojas e anúncios de internet (post sobre carros num futuro próximo, onde contarei detalhadamente como foi a compra do carro). Um desses carros que fui ver era do dono de uma oficina mecânica, papo vai, papo vem, ele me perguntou se estava trabalhando, disse que ainda não e então me ofereceu emprego de auxiliar geral lá na oficina. Palavras dele: "não é o melhor emprego mas é um dinheiro que entra até arrumar algo melhor". Educadamente agradeci, disse que ainda ficaria uns dias sem trabalhar.

Após ter a documentação em mãos decidi que iria fazer um teste e me candidatar para alguma vaga aleatória. Achei o anúncio de uma agência de empregos que recrutava para uma fábrica numa cidade vizinha, fui lá, fiz o cadastro, no dia seguinte me ligaram marcando uma entrevista, fiz a entrevista, fui aprovado, fiz testes físicos, fui aprovado, fiz exame médico, fui aprovado... estou esperando me chamarem para começar a trabalhar até hoje... Engraçado que a empresa continua recrutando para a mesma vaga... Será que rolou algum tipo de preconceito por ser brasileiro? Nunca saberei!

Nesse meio tempo que aguardava a empresa chamar decidi fazer outro teste e enviei alguns currículos para empresas relativas à minha área de formação, tive duas respostas, uma agradeceu por email o envio do CV e disse que o quadro estava completo, a outra me chamou para uma entrevista. O entrevistador queria entender melhor como estava a minha situação de documentos no país, expliquei que estava legalmente, tinha todos os papéis necessários porém não tinha validado meu diploma ainda. Ele disse-me que embora possível me contratar sem diploma, isso economicamente não seria viável para a empresa (com razão) e me orientou como fazer a validação, fez algumas ligações para conseguir informações concretas e até me ofereceu um estágio não remunerado. Agradeci muito a ajuda e saí. Foi uma experiência muito útil para entender melhor como funciona minha categoria aqui em Portugal.

Então, de volta à estaca zero, mandei alguns CVs para anúncios da OLX, entre eles para uma empresa do setor industrial que, por intermédio de uma agência, me chamou para uma entrevista. A entrevista foi bem simples, sem aquelas frescuras de "onde você se vê em 5 anos?", "quais qualidades você tem para oferecer a empresa?", viram meus documentos, e disseram que ligariam em 2 dias, se não ligassem era porque não tinha sido aprovado. Ligaram na sexta, segunda estava trabalhando.

Detalhes

Desde que fui contratado outras empresas me ligaram ou mandaram email querendo marcar entrevistas, percebo que aqui o processo de recrutamento é meio moroso e esse talvez seja o motivo que vários anúncios destacam "entrada imediata". Acho que as empresas no geral não possuem pressa para contratação e vão fazendo banco de CVs ou coisa assim, acho que por isso demoram para entrar em contato.

Uma vez dentro da empresa percebo que eles cagam e andam para o fato de eu ser brasileiro. Obviamente eles percebem assim que começamos à falar mas em 99% dos casos eles continuam falando naturalmente. Um ou outro depois acaba perguntando quanto tempo estou em Portugal, o porquê de ter vindo, de qual "zona" do Brasil sou, etc. Mesmo aqui no interior o português médio está acostumado com imigrantes, esse negócio de tratar estrangeiro diferente é coisa de brasileiro.

Não notei preconceito algum pelo fato de ser brasileiro. O que acontece é que pelo fato de ser introvertido e a língua ser uma barreira (sim, isso acontece, como disse é bem difícil entender o português falando em ritmo normal, num ambiente com barulho) sinto mais dificuldade de socialização, porém imagino que dentro da mesma situação no Brasil, aconteceria a mesma coisa ou talvez até pior. Meu trabalho é bem diferente do que já fiz no Brasil, o tipo de pessoa que lá trabalha também é diferente do que estou acostumado à conviver, enfim...

Por outro lado, Bia que é extrovertida, já fez amizade com todos no trabalho. Outro dia saímos com colegas dela e foi bem divertido. O perfil de pessoas que trabalham com ela tem mais a ver com o que estamos acostumados, logo a interação é mais fácil.

Vale lembrar que nem Bia nem eu temos colegas de trabalho brasileiros, são todos portugueses.

Meu trabalho é por "dedo picado", ou seja, bato ponto certinho e tudo que passar da hora é pago certinho como extra. Por outro lado Bia fica um pouco à mercê das necessidades da empresa, muitas vezes fazendo mais horas que o combinado. Exploração? Penso que não, isso é inerente do ramo de atuação dela, por outro lado há parte da renda que é variável o que ajuda a compensar. Ainda não sabemos como serão os benefícios e os 13º e 14º salários, quando chegar lá contarei como funciona.

No meu caso as férias são picadas no decorrer do ano, então aquele lance de 30 dias corridos de férias que existe no Brasil aqui não funciona. A empresa tem um calendário de férias e coisas tipo emenda de feriado (que aqui tem muitos) conta como férias. Por outro lado ao fazer hora extra ganho também horas no banco de horas que posso negociar da maneira que for melhor, podendo muitas vezes juntar essas horas com dias de férias. Bia ainda não sabe como serão as férias dela.

Bem, basicamente é isso que tenho pra falar, se tiverem dúvidas postem nos comentários.

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