Matheus Moraes sugeriu que eu comentasse uma matéria que saiu no Estadão esses dias, leia a matéria na íntegra aqui.
É engraçado ler esse tipo de matéria uma vez que você está por dentro do assunto, vivendo aquilo dia-a-dia, fica bem interessante. No geral digo que a autora tem muita razão no que diz dentro do contexto e público alvo para qual escreveu e totalmente sem noção para outras pessoas. Vamos lá...
A Ruth vive em Portugal à 4 anos, casada com um português, então com certeza deve saber um pouco mais que eu sobre o país e o rumo da imigração brasileira, mas algo logo no começo do texto já me brochou:
Voltando à Portugal ela tem razão quando diz que Portugal está na moda e que muitos europeus estão vindo para cá devido à qualidade de vida elevada e baixo custo de vida, isso não é novidade. Também está certa quando diz que o dinheiro de fora injetado aqui infla o preço das moradias e fode com a vida do português que ganha luso-euros, porém como sempre acredito que existe um grave problema geográfico envolvido nisso: LISBOA e PORTO. Portugal não se resume à essas duas cidades e assim como eu fiz, outros podem vir ao interior onde a moradia ainda é acessível e há muitas vagas de emprego disponíveis. Lisboa é enorme, economia forte, muito trabalho, mas sofre do mesmo problema brasileiro da superpopulação, é muita gente numa mesma zona geográfica disputando emprego e moradia. Se tem um conselho que dou pra quem está planejando vir pra Portugal é: venha para o interior, sua vida será melhor, mais barata, terá mais emprego e tudo será mais fácil.
Sem dúvidas! Galerinha que tem Sulamérica no Brasil jamais se sujeitará ao sistema público português. Ainda não precisei usar, mas relatos de conhecidos dizem que é normal esperar 12h pra ser atendido na emergência de um hospital, mas quando você destrincha a informação entende que o sistema aqui é bem diferente: você tem um telefone pra ligar e fazer uma pré consulta por telefone, o médico pode inclusive receitar medicamentos por telefone porque o sistema de receitas é eletrônico e quando você chega na farmácia basta apresentar seu documento e a receita já está no sistema. Existe uma separação por níveis de emergência, logo se você é daqueles que vai no postinho brasileiro porque está com gripe, ficará sim 12h esperando no hospital. No sistema de saúde a simplicidade impera novamente (como tudo em Portugal), não há sofisticação alguma, é tudo enfermaria, tipo linha de produção mesmo. Estranho pra quem acha que hospital deve ser uma experiência hoteleira...
A frasinha de "abrir mão dos seus privilégios." é bem esquerdada mas não deixa de ser verdade. No Brasil a classe média (me incluo no grupo) acostuma-se ter uma vida bem diferente da classe mais baixa, seja por ter filhos em escolas pagas ou por ter um plano de saúde que te coloca num quarto com ar condicionado. Aqui o que acontece é uma uniformização, uma homogeneidade entre os pobres e a classe média, só começa ter alguma diferença a galera mais bem de vida mesmo. Na prática o frentista do posto, o caixa do supermercado, o enfermeiro e o advogado estão todos no mesmo balaio...
Sobre sermos mal vistos por sermos ex colônia, brother, chega de hipocrisia, somos inferiores em muita coisa sim, somos no geral mais selvagens (a sociedade brasileira nos moldou assim), somos mais xucros, e isso vai de cada um contornar da maneira que achar possível.
Acontece que pra grande parte do pessoal que tem condições de vir para Portugal, o país acaba sendo mais uma armadilha que outra coisa. Aposentados que vem com visto D7 se fodem por depender do câmbio, grande parte das pessoas que vem com cidadania possuem uma boa situação financeira no Brasil (só o custo da cidadania pode ser o de um carro popular) e se veem como pobres por aqui. Muitos veem com a ideia de ter uma vida minimalista (como a minha), diminuir o ritmo, etc, porém ao chegar aqui percebem que isso não é pra eles, que eles gostam de ter um pouco mais, viver com mais e isso pode ser inviável por aqui. Acho que minha grande sorte é ser realmente minimalista, ter uma companheira idem, ter documentação necessária e ser desencanado da profissão e de bens materiais, além disso trabalho com pessoas simples, o que faz minha expectativa profissional/financeira também ser baixa. Pessoas assim com certeza se darão melhor por aqui.
A Ruth escreveu esse texto para o típico casal classe média-meio-alta brasileiro, que tem renda familiar de pelo menos R$ 18k, um Civic 2016 e um Rav4 2018 na garagem do sobrado de R$ 500k, Valentina e Enzo estudam numa escola particular, possuem todos os canais da Net, todos os eletrônicos da maçã e fazem compra no Pão de Açúcar e no Marché. Nesse contexto, ela tem toda razão.
É engraçado ler esse tipo de matéria uma vez que você está por dentro do assunto, vivendo aquilo dia-a-dia, fica bem interessante. No geral digo que a autora tem muita razão no que diz dentro do contexto e público alvo para qual escreveu e totalmente sem noção para outras pessoas. Vamos lá...
A Ruth vive em Portugal à 4 anos, casada com um português, então com certeza deve saber um pouco mais que eu sobre o país e o rumo da imigração brasileira, mas algo logo no começo do texto já me brochou:
"Concordo que, quando Bolsonaro é fortemente cotado a presidente da República, não dá vontade de criar filhos nesse lugar."Claro, criar filhos num país comandado por petistas é ok, o problema é o Bolsonaro e o fortalecimento da direita. Veja bem, se nosso querido Molusco ganhar, isso poderá ser uma excelente janela de oportunidade para se ganhar dinheiro no Brasil, esperto quem aproveitar, burro é quem ficar de mimimi. Foda-se quem governa ou deixa de governar o país, precisamos aproveitar as oportunidades sem ser um velho chorão. Muita gente focou milionária de maneira lícita durante os anos do PT, esperto foi quem se ligou que a farra não ia durar pra sempre, vendeu suas empresas, soube investir o que ganhou, mandou dinheiro pra fora... Podemos quem saber ter uma nova onda dessas.
Voltando à Portugal ela tem razão quando diz que Portugal está na moda e que muitos europeus estão vindo para cá devido à qualidade de vida elevada e baixo custo de vida, isso não é novidade. Também está certa quando diz que o dinheiro de fora injetado aqui infla o preço das moradias e fode com a vida do português que ganha luso-euros, porém como sempre acredito que existe um grave problema geográfico envolvido nisso: LISBOA e PORTO. Portugal não se resume à essas duas cidades e assim como eu fiz, outros podem vir ao interior onde a moradia ainda é acessível e há muitas vagas de emprego disponíveis. Lisboa é enorme, economia forte, muito trabalho, mas sofre do mesmo problema brasileiro da superpopulação, é muita gente numa mesma zona geográfica disputando emprego e moradia. Se tem um conselho que dou pra quem está planejando vir pra Portugal é: venha para o interior, sua vida será melhor, mais barata, terá mais emprego e tudo será mais fácil.
Portugal não é só Lisboa! |
Exatamente! Não poderia ter explicado melhor. Amiguinho, tenha uma coisa em mente quando pensar em emigrar: as chances de trabalhar na sua área de formação e ter sucesso nisso são ínfimas de tal forma que é melhor desencanar disso e trabalhar com a hipótese que isso simplesmente não irá acontecer. Quer saber, isso é um exercício libertador de várias maneiras. Por ter vindo com esse pensamento é que Bia e eu arranjamos trabalho tão rapidamente (por não ficar de mimimi esperando uma vaga nas nossas áreas ou gastando tempo com validações de diplomas, etc), outra grande vantagem é a chance de ganhar mais, isso porque quando um peão ganha € 850 e um advogado ganha € 1.000, não me parece muita vantagem trabalhar na área de direito...
"Os brasileiros não têm grandes dificuldade para conseguir empregos como garçom, vendedor ou camareira. Mas vejo pessoas achando que vão chegar aqui e facilmente conseguir trabalho como advogado, engenheiro, publicitário, administrador. Surpresa: não vão."
"Quanto ao sistema público (nem vou entrar na conversa óbvia de ter que explicar que nem todos têm direito a utilizá-lo), posso dizer que 90% dos amigos portugueses que tenho têm plano de saúde privado. E seus filhos estudam em escolas privadas. E não, não é baratinho. E que mesmo nas escolas públicas quase sempre é preciso pagar um valor mensal."Acredito que o ciclo de amizade da Ruth seja de pessoas de classe média, classe média alta, porque até onde sei nenhum dos meus colegas de trabalho tem filho em escola particular. Sobre plano de saúde privado você encontra até de graça (sim, o supermercado Continente "dá" um plano de saúde pra quem é cliente, isso porque mesmo com plano de saúde aqui é tudo co-participativo) mas se quiser pagar dificilmente vai gastar mais de € 50 por família.
Quando olho para um centro de saúde público de Portugal, me pergunto se elite brasileira estaria disposta a viver assim. Tenho certeza absoluta de que não. Quem está habituado à desigualdade social tem sérias dificuldades para abrir mão dos seus privilégios.
Sem dúvidas! Galerinha que tem Sulamérica no Brasil jamais se sujeitará ao sistema público português. Ainda não precisei usar, mas relatos de conhecidos dizem que é normal esperar 12h pra ser atendido na emergência de um hospital, mas quando você destrincha a informação entende que o sistema aqui é bem diferente: você tem um telefone pra ligar e fazer uma pré consulta por telefone, o médico pode inclusive receitar medicamentos por telefone porque o sistema de receitas é eletrônico e quando você chega na farmácia basta apresentar seu documento e a receita já está no sistema. Existe uma separação por níveis de emergência, logo se você é daqueles que vai no postinho brasileiro porque está com gripe, ficará sim 12h esperando no hospital. No sistema de saúde a simplicidade impera novamente (como tudo em Portugal), não há sofisticação alguma, é tudo enfermaria, tipo linha de produção mesmo. Estranho pra quem acha que hospital deve ser uma experiência hoteleira...
A frasinha de "abrir mão dos seus privilégios." é bem esquerdada mas não deixa de ser verdade. No Brasil a classe média (me incluo no grupo) acostuma-se ter uma vida bem diferente da classe mais baixa, seja por ter filhos em escolas pagas ou por ter um plano de saúde que te coloca num quarto com ar condicionado. Aqui o que acontece é uma uniformização, uma homogeneidade entre os pobres e a classe média, só começa ter alguma diferença a galera mais bem de vida mesmo. Na prática o frentista do posto, o caixa do supermercado, o enfermeiro e o advogado estão todos no mesmo balaio...
A sensação de segurança realmente existe por aqui. Andar de ônibus à noite (lembrando que um bilhete para um trajeto, comprado com o motorista, custa quase 2 euros) sem medo é mesmo um luxo. Mas vale dizer: furtaram o celular de diversos conhecidos aqui. Deixamos nosso carro na rua de casa e no dia seguinte encontramos os vidros quebrados e não sobrou nem a cadeirinha da minha enteada para contar história. O paraíso não existe.Parece que nas grandes cidades está ficando assim mesmo. O que acontece aqui é a famosa frase: "a ocasião faz o ladrão". Você dificilmente sofrerá um assalto ou crime violento mas não dê bobeira, achando que seu Iphone69 não será furtado.
"Mas não gostam tanto assim dos nossos diplomas e frequentemente não acham que somos bons o bastante para ocupar certos cargos, frequentar certos lugares ou para namorar certas pessoas. Somos frutos de uma ex-colônia. Somos América Latina. Somos hemisfério sul. E isso fica evidente na forma como somos tratados."É claro que não gostam dos nossos diplomas, o sistema educacional brasileiro é um lixo e pra exercer qualquer coisa aqui nossa formação brasileira quase sempre não é suficiente. Os portugueses tem a Universidade de Coimbra fundada 300 fucking anos de descobrirem o Brasil! Caralho, precisa falar mais alguma coisa? Competir com profissionais portugueses é dificílimo, mais um ponto a favor da minha teoria de desertar da profissão antes de vir pra cá.
Sobre sermos mal vistos por sermos ex colônia, brother, chega de hipocrisia, somos inferiores em muita coisa sim, somos no geral mais selvagens (a sociedade brasileira nos moldou assim), somos mais xucros, e isso vai de cada um contornar da maneira que achar possível.
Acontece que pra grande parte do pessoal que tem condições de vir para Portugal, o país acaba sendo mais uma armadilha que outra coisa. Aposentados que vem com visto D7 se fodem por depender do câmbio, grande parte das pessoas que vem com cidadania possuem uma boa situação financeira no Brasil (só o custo da cidadania pode ser o de um carro popular) e se veem como pobres por aqui. Muitos veem com a ideia de ter uma vida minimalista (como a minha), diminuir o ritmo, etc, porém ao chegar aqui percebem que isso não é pra eles, que eles gostam de ter um pouco mais, viver com mais e isso pode ser inviável por aqui. Acho que minha grande sorte é ser realmente minimalista, ter uma companheira idem, ter documentação necessária e ser desencanado da profissão e de bens materiais, além disso trabalho com pessoas simples, o que faz minha expectativa profissional/financeira também ser baixa. Pessoas assim com certeza se darão melhor por aqui.
A Ruth escreveu esse texto para o típico casal classe média-meio-alta brasileiro, que tem renda familiar de pelo menos R$ 18k, um Civic 2016 e um Rav4 2018 na garagem do sobrado de R$ 500k, Valentina e Enzo estudam numa escola particular, possuem todos os canais da Net, todos os eletrônicos da maçã e fazem compra no Pão de Açúcar e no Marché. Nesse contexto, ela tem toda razão.
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