sábado, 11 de abril de 2015

Onde é melhor empreender? Periferia ou bairro nobre?

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Primeiramente gostaria de deixar claro que sim, eu tenho uma forte tendência de não gostar de coisas relacionadas a favelas, "comunidades" e "coisas de pobre". Podem me chamar de esnobe, de metido do raio que o parta... Sou assim e pronto! Não vejo o menor glamour em ser humilde, passar fome, etc. Então esse post é sim parcial, é uma opinião, e como toda opinião não existe certo ou errado.

Durante minha adolescência trabalhei para um senhor português dono de uma pequena rede de lojas, costumo dizer que ele foi meu "pai rico", com ele aprendi muito do que sei hoje sobre empreendedorismo e principalmente sobre a vida. Ele tinha lojas espalhadas por todos os cantos da cidade, desde bairros nobres até quebradas, dentro da favela mesmo. Durante algum tempo fui seu "pau pra toda obra", era sempre eu que cobria todo e qualquer buraco em sua equipe de funcionários. Um cara da loja dos Jardins faltou? Manda o Corey! O gerente da loja de Parelheiros está doente? Manda o Corey! Sou muito grato a essa época porque além de aprender todas as nuances do trabalho, conheci lugares e pessoas muito diferentes. Nessa época rodei a cidade, lidei com todo tipo de cliente e passei por todo tipo de situação que você imaginar, com isso adquiri uma experiência precoce que me ajudou a trilhar meu próprio caminho no empreendedorismo.

Empresa na favela? Não obrigado, não é pra mim, mas
pode ser pra você...
O Portuga sempre me disse que suas lojas começaram no que hoje são os bairros nobres, mas que a 40 anos atrás eram apenas bairros em crescimento, "vila-sem-reboque" como ele se referia. No começo eram bairros simples, veja que ele foi pra Moema quando ainda se chamava Indianópolis, as ruas eram de terra e DC-3 eram comuns em Congonhas. Com o tempo a população evoluiu e as lojas também. Conforme os negócios iam crescendo ele ia expandindo as lojas para bairros também em crescimento, assim sucessivamente... Portuga sempre disse que o melhor lugar pra ganhar dinheiro é em bairro pobre, de operários, em crescimento... Ele ainda é da época do fiado, pessoas tinham fichas nos comércios, compravam a crédito e acertavam a conta religiosamente no dia do pagamento.

Tempo desses fui visitar meu ex-patrão, ainda firme e forte trabalhando em uma de suas lojas nos bairros "nobres", papo vai, papo vem ele me confessa que fechou 3 lojas na zola leste por causa da bandidagem; Segundo ele "Corey, antigamente bairro pobre era bairro de gente direita, a gente tinha problema com bate-carteira, molecada torta que roubava uns trocados usando caco de vidro como arma mas era coisa insignificante. Hoje eu tenho que pagar 200 merréis por semana pra bandido não me assaltar na maioria das lojas da periferia, se não pago pra bandido tenho que pagar pra milícia de policial... tá certo esse negócio não, eticamente tá tudo errado... e outra, o pessoal da periferia compra no concorrente por causa de 10 centavos, eles não estão errados, mas isso atrapalha muito os negócios, diminui a margem de lucro e isso não quer dizer que o volume de vendas aumenta... tenho que lidar com uma molecada que só quer bagunça, crime todo dia na frente das lojas... barulho, música alta... as lojas são as menos rentáveis mesmo tendo o custo menor, aluguel barato... por isso estou fechando ou vendendo essas lojas, quero focar nessas das regiões melhores... meus filhos não tem paciência pra cruzar a cidade, ficar horas no carro pra administrar as lojas mais distantes..."

Concordo com o Portuga! Na época que trabalhava pra ele e tinha que ir nas lojas afastadas aprendi que é totalmente diferente trabalhar no Capão Redondo que no Campo Belo. Na periferia o giro de pessoas é muito maior, é normal ver as lojas lotadas, mas no fim das contas boa parte dessas pessoas estão apenas pesquisando preço e quando compram o ticket médio e rentabilidade são bem menores quando comparado com a região mais rica. Na periferia você monta uma loja com investimento bem menor, tem custo operacional menor porque os aluguéis são baixos e os funcionários normalmente não precisam de condução; mas por outro lado ganha menos também. Claro que não dá pra generalizar, cada ramo é um ramo, mas no fim das contas a relação custo X rentabilidade líquida acaba empatando. Na periferia você tende a ter uma venda bruta maior, mas com rentabilidade menor. Isso quer dizer que você atende mais gente, lida com mais dinheiro pra no fim das contas
Por outro lado, trabalhar na Oscar Freire não deve ser
uma coisa lá muito legal...
ganhar o mesmo que no bairro rico.

Como o Portuga disse, o grande problema de ter um negócio na periferia nos dias de hoje é a bandidagem. Coisas como pagar propina pra traficante em troca de não ter a loja assaltada 3 vezes por semana é realidade pra 99% dos comerciantes. Outra coisa muito comum é você ter que financiar família de bandido quando este está preso ou fugindo: você paga comida, água, luz, remédios pra esposa/filhos do manda chuva da quebrada. Os capangas costumam passar recolhendo "contribuições" pra sustentar a fulaninha... Experimente não pagar... Outra coisa comum são problemas com funcionários que quase sempre são da própria quebrada, contaminados com a putaria generalizada... Enfim, na minha opinião mesmo se for pra ganhar mais dinheiro, o conflito ético/moral de ter um negócio na quebrada não me deixa ter uma loja nesses lugares.

Veja o exemplo das minhas lojas. Elas estão localizadas em bairros classe média, nada sofisticados mas também não são favelizados, estão em bairros antigos mas em crescimento populacional devido aumento do número de prédios. Grande parte da minha clientela da loja antiga, por exemplo, é fiel, mesmo eu não tendo o melhor preço do pedaço. Eles valorizam o atendimento, qualidade do ambiente de atendimento mais que o preço baixo. Meu preço é competitivo, mas não o melhor da vila. Por outro lado tenho um concorrente porra-louca, cujo lema é vender barato. A loja dele está sempre cheia, mas o público é diferente, percebo que são os novos moradores do bairro. Cada um ganha de uma maneira diferente e há cliente pra ambos.

Agora veja minha loja nova. Estava totalmente ultrapassada e quebrada, após uma reforma hard-core ela ficou bonita, moderna e agradável. As vendas decolaram. Gastei dinheiro, mas esse investimento pode ser recuperado facilmente na hora de vender a loja. Coisa que não costuma acontecer na periferia. Lojas de periferia são difíceis de vender porque possuem baixo valor agregado e normalmente são distantes de onde os empreendedores moram. Tenho um colega que acaba de comprar sua terceira loja, num bairro, como diria um amigo, chiquetésimo. Pagou caro, reformou e está indo bem, bom faturamento... Já tem gente de olho em comprar a loja! Ele estima que conseguirá ganhar ao menos 50k somente em cima da reforma.

Cada um deve achar o que é melhor pra sua realidade. Eu por exemplo, quero lojas vendáveis, não ficarei pro resto da vida com a mesma loja, quero que ela seja lucrativa enquanto eu estiver com ela, mas quero conseguir vende-la rapidamente e com lucro quando chegar a hora. Não suporto lidar com gente xucra, bandidagem e pessoas mal educadas e barraqueiras, logo não posso nem considerar a hipótese de ter uma loja na quebrada, mas também não tenho saco pra aguentar nêgo metido a besta como existem nos bairros ultra tops de São Paulo. Por outro lado uma pessoa com pouco capital, muita vontade de dar certo e que não ligue pra essas questões morais pode dar muito certo na periferia, onde tudo é mais barato e mais fácil de girar. Cada um no seu quadrado.

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