segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Manual de Uso do Carro Velho

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Como sabem, de um ano pra cá tenho usado um carro velho, de 20 anos de idade. Poucas vezes na vida fiquei tão satisfeito com um carro, hoje vou dar minha opinião do porquê um carro velho pode ser um baita negócio e também como utiliza-lo da melhor maneira. Lembro que esse é um post de opinião, se você não concorda, ok, passe pro próximo.

Primeira questão a ser considerada em relação a propriedade de um carro: pra que serve um carro? Pode parecer estranho mas carros podem servir pra muitas coisas. Se você é um homem solteiro seu carro pode te ajudar a conseguir mulheres e não há absolutamente nada de errado com isso, cada um luta com as armas que tem e isso é 100% lícito. Nesse caso um carro velho não é uma boa opção. Se você é um vendedor, representante comercial ou trabalha com algo que exige deslocamentos constantes, seu carro é sua ferramenta de trabalho e provavelmente um carro mais novo e principalmente econômico é mais indicado. Se você é advogado, corretor ou tem que se deslocar com clientes, um carro de nível superior é melhor (sabemos que carro não quer dizer nada, mas é assim que a sociedade funciona portanto não adianta ir contra). Mas se você é uma pessoa que precisa de um carro pra se deslocar de A pra B, anda menos de 12.000km por ano e não faz viagens longas, um carro velhinho pode ser um tremendo negócio. E esse é exatamente meu caso.

Em casa temos esse carro velhinho e uma moto de pequena cilindrada também velhinha. Duas "conduções" cujo valor investido não chega a 15 mil reais. Ambos nos servem muito bem dentro das nossas necessidades atuais sem trazer preocupações em relação ao dinheiro empatado, desvalorização, seguros, IPVA, etc.

Como usar um carro velho?

Antes de decidir em ter um carro velho entenda uma coisa: carro não é investimento, carro não é membro da família, você jamais deve se apegar a um carro. Carro é um bem de consumo e nada mais. Pare com essa frescura que brasileiro tem de lavar carro todo fim de semana, de levar no martelinho de ouro pra tirar amassados imperceptíveis, de encerar carro uma vez por mês, de comprar acessórios, de comprar rodas esportivas. Pare com isso, jovem! Carro você usa, quando acabar joga fora. Ponto final.

Carro velho SEMPRE vai ter alguma coisa pra fazer, mas você não vai fazer ao menos que seja necessário para o correto funcionamento dele. Carro velho deve andar da maneira mais segura possível e só. Ele não tem que estar brilhando, sem amassados ou arranhões. Num carro sua preocupação deve ser a confiabilidade do motor e câmbio, eficiência do freio e a suspensão deve estar razoável. Nada mais!

Qual carro escolher?

Quanto mais simples, melhor. Aqui eu fiz exatamente o contrário, comprei o que era considerado um carro de luxo na sua época de lançamento, completo, top de linha. Esse é um risco que assumi porque não abro mão de ar-condicionado, direção hidráulica e câmbio automático. Minha aposta deu certo mas o risco é alto. Se a transmissão do meu carro estourar, é melhor vender pro desmanche que mandar arrumar. Minha aposta é baseada na reputação da fabricante. Se você compra um carro simples ou de manutenção barata o risco de se foder é bem menor, quanto menos coisa pra quebrar, quanto menos tecnologia, melhor. Fuja de importados estranhos, de franceses e de carros "exclusivos".

Como comprar um carro velho?

Aqui entra um aspecto sob o qual você não tem o menor controle: sorte. Pra comprar um carrinho velho de qualidade você deve ter sorte mas certas coisas ajudam. Meu carro foi comprado através de um cliente da loja que mexe com carros (um aposentado que tem isso como hobby), bem ou mal eu tinha certa confiança nele. Comprar de alguém que você confia ajuda muito. Outra dica é procurar uma "mosca branca", ou seja um carro muito bom, com qualidade muito superior aos seus pares, tenha em mente que isso significa pagar bem mais o que não quer dizer que seja negócio ruim. Meu carro mesmo, paguei 12k enquanto modelos similares do mesmo ano são encontrados por menos de 10k, mas o meu é um desses, com qualidade bem superior. Veja que 2k não vai te matar, é menos que o seguro de 1 ano de um popular em São Paulo e dependendo de como tiver o carro no momento que você for vender você recupera esse "investimento".

O lance é pegar um carro de algum desses tontos que lambem carro como se fosse um filho e usa-lo como uma pessoa racional usa um carro, capiche?

E a manutenção, Corey?

Você deve estar se questionando: Porra, um carro velho dá muita manutenção... Sim e não. Sim porque é óbvio que quanto mais velho maior as chances de coisas quebrarem e não por diversos motivos:

  • Carros com mais de 20 anos são nitidamente melhor fabricados, a qualidade é muito superior aos atuais e a tecnologia mais robusta e menos descartável. Os carros dos anos 90 pifam menos e são mais recuperáveis.
  • Manutenção preventiva é algo supervalorizado. Aqui é uma opinião controversa mas eu continuo achando que as pessoas fazem revisões demais em seus carros. As concessionárias fazem terror sobre a segurança e empurram manutenções desnecessárias. Certa vez, quando eu era financeiramente burro, comprei um carro zero, andei 60.000km e só troquei óleo e fiz rodízios de pneus uma vez. Esse carro nunca recebeu uma revisão e rodou perfeitamente durante 3 anos. Logo você não precisa fazer tanta manutenção assim...
  • Se você opta por um carro de manutenção simples provavelmente vai gastar menos com as peças e mão de obra. Um amigo tem um Uno 94, semana passada gastou 300 reais pra dar uma geral no motor, trocou óleo, filtros, correia dentada, limpou injeção (ou carburador, sei lá) e pastilhas de freio. Quem fez o serviço foi um colega mecênico da Toyota que faz uns freelas em casa. Resumindo: gastou pouco, ficou com o carro pronto pra mais um tempo, contribuiu pra economia informal, não pagou impostos...
  • Você não mexe com o que tá quieto, você arruma o que pifa e pronto. Seu motor está rajando e baixando óleo? Você não deixa faltar óleo e água. Seu radiador tem um furinho? Você usa um selante. Pronto!
Ter carro velho é uma delícia, ninguém cresce o olho, os vendedores do farol não te perturbam, você não gasta com IPVA e seguro (uma tranca de câmbio ou volante dão conta), não liga pra amassados e ralões, passa desapercebido, não fica com dor na consciência de ter uma baita grana empatada, não tem parcela de porra nenhuma relacionada ao carro, não vão roubar suas rodas no meio da rua ou estacionamento do shopping, enfim, pra quem precisa de uma condução pra levar de A pra B não há coisa melhor!

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