Ostentação: todos gostamos, somente os tontos fazem. |
Conheço Jean e Maurício desde a escola, não os considero amigos (até porque esse lance amigo é muito relativo, papo pra outro post) mas são colegas, nos encontramos sempre nos churrascos de confraternização do pessoal da escola e nos grupos de zoeira/putaria do whatsapp.
Jean sempre foi um bon-vivant, viagens ao Guarujá todo final de semana, férias em Camboriú, só usava roupas de marcas, tênis da modinha eram trocados todos os meses, em 99 seu pai andava de Silverado do ano, moravam numa baita casa num bairro nobre da cidade. Ao terminar o colégio tudo foi farra, Jean morou uns tempos no sul, se gabava de pegar várias gaúchas, andava de carro bom, torrava fortunas nas baladas... Desde essa época a gente sabia que o pai de Jean era um picareta, teve vários carros retomados pelo banco, ordem de despejo por não pagar aluguel, ameaça de prisão, etc. Jean nunca fez faculdade mas deu certa sorte por surfar no boom da economia entre os anos 2003 e 2013, ganhou um bom dinheiro trabalhando com algo legal porém totalmente volátil. Como torrou todo e qualquer centavo que ganhou nesses 10 anos, quebrou totalmente quando a economia esfriou, ou pior ainda, saiu do seu negócio devendo até as cuecas pra um monte de gente. Foi trabalhar numa loja "ganhando somente o do cigarro" como ele orgulhosamente me contou. Não entendo como certas pessoas se orgulham de terem quebrado, de torrarem toda sua grana com cachaça... Jean fala com orgulho que a 3 anos andava de Mercedes e hoje de busão, que torrava 2k numa balada, que sempre gastou todo o dinheiro que tinha no bolso, que saia 6x por semana, etc. Vergonha alheia é o que sinto ao ouvir essas histórias...
Os pais de Maurício sempre tiveram uma condição financeira legal, em 99 tinham um carro 92 top de linha comprado zero, moravam num confortável porém pequeno sobrado numa região razoável da cidade. Maurício nunca foi de sair muito, não curtia muito nossas bebedeiras de adolescente mas estava sempre conosco, jogava bola com a molecada, era social porém discreto. Fez uma engenharia numa faculdade de bom nível, arrumou um bom emprego onde evoluiu razoavelmente rápido. Nesse meio de tempo comprou um carrinho popular completo, um apartamento tipo MRV e se casou. A vida ia muito bem até que numa mesma semana recebeu duas notícias: a boa é que seria pai (filho muito desejado), a ruim é que fora demitido. Engenheiro sem emprego num país no buraco, as chances de recolocação eram terríveis, 2 meses depois Maurício ainda não tinha conseguido arrumar outro emprego.
Ano passado nessa mesma época encontrei Jean e Maurício, abaixo explano seus respectivos planos pra sair do buraco:
Jean: "vou comprar um carrão, uma nave, tipo um Jetta TSI ou uma BM financiado no nome da minha namorada, aí faço um esquema com fulano, vendo o carro no valor cheio, pago a grana e quito minhas buchas, aí empurro de barriga o financiamento, pagando no protesto..." Bom, não entendi porra nenhuma desse plano maluco, só sei que ele queria fazer algum 171 nervoso e ainda envolver a namorada, pior ainda é saber que o cara não tem o menor pudor de sair falando esses planos bizarros pra outras pessoas, nem amigo dele eu sou, conheço a 20 anos mas isso não quer dizer que somos amigos... tenho dó porque sei que Jean no fundo é um cara legal, somente teve uma educação porca e acredita que não há o menor problema de fazer esses esquemas malucos e criminosos.
Maurício: "cara, não consegui nada, tá foda na minha área... Semana passada decidi fazer um teste, aluguei o carro de um amigo, porque o meu não serve, e comecei a fazer Uber... é um teste pra ver se da certo ou não, se tudo correr como previsto mês que vem compro um carro adequado... tá indo bem, tenho uma meta diária de faturamento que dificilmente não bato, mas quando isso acontece um dia cobre o outro, tenho planilha de controle dos gastos com combustível, celular, água mineral... Vamos ver, espero que dê certo..." Maurício começou no Uber com uma abordagem profissional, encarando como um empreendimento onde há investimento, despesa fixa e variável, etc. Ele tinha seu carrinho e apartamento quitado e depois descobri que tinha, em sociedade com um irmão, um imóvel de aluguel. Cabeça um pouco diferente, não?
Semana passada encontrei Jean e Maurício novamente, veja os updates:
Jean: "cara, me levantei, tô trabalhando novamente na área e tá devagar mas tá dando pra sobreviver... tô andando com essa nave aí (apontando para o hatch de 80k)". Não quis me aprofundar mas provavelmente ogolpe negócio de Jean deu certo, tenho plena convicção que aquele carrão estava totalmente financiado e provavelmente com parcelas em atraso, também sei que outro revés da economia e Jean estará completamente fudido novamente, ou talvez preso mesmo. Ele está feliz, então ok...
Maurício: "O Uber deu certo, comprei um DeLorean (nome meramente ilustrativo) 2012 adequado até para o Uber Black, só não serve por causa do ano, mas comprei de propósito porque consigo fazer Uber X com um carro de Uber Black e ter ótimas avaliações, além de mais conforto pra dirigir, coloquei GNV, fiz um curso pra aprender a dirigir melhor e ganhar mais, hoje tenho uma agenda de trabalho buscando rodar nos locais e horários que rendem mais. Consigo ter mais tempo pra minha filha e esposa. Tô gostando bastante, não ganho o mesmo que na firma mas dá pra viver muito bem... Vejo um monte de nêgo reclamando que Uber não dá mais dinheiro, que é escravidão, mas poucos sabem o que estão fazendo... " Veja que a abordagem profissional que Maurício encarou o Uber trouxe muitos resultados positivos, sem dúvidas a cabeça de solucionamento de problemas que engenheiros possuem ajudou muito. Ele está tranquilo, adaptou o trabalho ao ritmo familiar e ganha dinheiro pra tocar a vida,.. (em breve um post comentando sobre oferecer mais por menos, exatamente o que Maurício faz).
Assim como eu Maurício é discreto em relação a sua vida financeira, deve ter aproveitado muito bem os anos de gordos salários na "firma" pra formar patrimônio, talvez ele seja um blogueiro e a gente não saiba, rsrs! Hoje pode se dar ao "luxo" de ganhar menos mas tem tempo pra ficar com sua filha pequena, que crescerá na presença do pai o que sem dúvida alguma é fundamental. Por outro lado Jean é espalhafatoso, sai contado detalhes da sua vida pra todo mundo e vive na merda. Por mais que ele ache que não por estar andando de carro top e torrando novamente como se não houvesse amanhã, a gente sabe que ele não está bem e que a vida dele é de merda porque vive no fio da navalha, qualquer escorregada ele se cortará.
Um dos primeiros livros que li quando comecei a buscar educação financeira foi o "Segredos da mente milionária", que em resumo diz o seguinte: uma vez com mente de pobre, você sempre será pobre, não importa o que aconteça na sua vida. Esse é o caso dos pobretões ganhadores de loteria que voltam a ficar na bosta pouco tempo depois. Por outro lado se você tiver cabeça de rico, pode passar por apuros mas sempre vai se levantar porque sua mente é programada pra ser rico. Esse é o caso dos milionários que quebram e pouco tempo depois se reinventam.
Trazendo esse ensinamento do livro pra mais próximo da realidade e sem usar extremos vejo que Jean é a típica mente pobre, programada pra ser pobre eternamente. Ele busca uma falsa riqueza e felicidade em coisas materiais que possam faze-lo parecer rico, Maurício é a "mente milionária" que sempre teve cautela com sua vida financeira e aproveitou um baita de um revez que poderia fode-lo pro resto da vida pra criar uma nova vida profissional, perdeu rendimentos, mas ganhou tempo com sua família.
Particularmente acho que minha mente tem muito de "pobre", talvez herança do meu pai que a vida inteira tentou ser rico sem se preocupar com a estabilidade financeira, que sempre que pode usou de bens materiais como alavanca social, que nos anos 90 colocava seu American Express verde na frente dos outros cartões pra se sentir o fodão (ele mesmo dizia isso com todas as palavras) quando chegava num comércio e "sem querer" colocava a carteira aberta em cima do balcão; que fumava Derby mas quando ia a alguma reunião da família comprava Carlton, etc. Mas essa mesma mente pobre herdada do meu pai luta com a mente milionária que brotou na minha cabeça na tentativa de não repetir as cagadas do velho e a promessa que naturalmente fiz pra mim mesmo de "nunca quebrarás". Mente pobre e mente milionária pode sim ser trabalhada e melhorada, uma prova é o tanto de gente na blogosfera que passou de fracassado fudido a investidor.
Sempre digo que adoro ouvir histórias financeiras, sejam de sucesso ou fracasso, anti-modelos são mais importantes que modelos. Pensando em Jean e Maurício me faz crer ainda mais que meu modelo de vida está nos trilhos certos.
Jean sempre foi um bon-vivant, viagens ao Guarujá todo final de semana, férias em Camboriú, só usava roupas de marcas, tênis da modinha eram trocados todos os meses, em 99 seu pai andava de Silverado do ano, moravam numa baita casa num bairro nobre da cidade. Ao terminar o colégio tudo foi farra, Jean morou uns tempos no sul, se gabava de pegar várias gaúchas, andava de carro bom, torrava fortunas nas baladas... Desde essa época a gente sabia que o pai de Jean era um picareta, teve vários carros retomados pelo banco, ordem de despejo por não pagar aluguel, ameaça de prisão, etc. Jean nunca fez faculdade mas deu certa sorte por surfar no boom da economia entre os anos 2003 e 2013, ganhou um bom dinheiro trabalhando com algo legal porém totalmente volátil. Como torrou todo e qualquer centavo que ganhou nesses 10 anos, quebrou totalmente quando a economia esfriou, ou pior ainda, saiu do seu negócio devendo até as cuecas pra um monte de gente. Foi trabalhar numa loja "ganhando somente o do cigarro" como ele orgulhosamente me contou. Não entendo como certas pessoas se orgulham de terem quebrado, de torrarem toda sua grana com cachaça... Jean fala com orgulho que a 3 anos andava de Mercedes e hoje de busão, que torrava 2k numa balada, que sempre gastou todo o dinheiro que tinha no bolso, que saia 6x por semana, etc. Vergonha alheia é o que sinto ao ouvir essas histórias...
Os pais de Maurício sempre tiveram uma condição financeira legal, em 99 tinham um carro 92 top de linha comprado zero, moravam num confortável porém pequeno sobrado numa região razoável da cidade. Maurício nunca foi de sair muito, não curtia muito nossas bebedeiras de adolescente mas estava sempre conosco, jogava bola com a molecada, era social porém discreto. Fez uma engenharia numa faculdade de bom nível, arrumou um bom emprego onde evoluiu razoavelmente rápido. Nesse meio de tempo comprou um carrinho popular completo, um apartamento tipo MRV e se casou. A vida ia muito bem até que numa mesma semana recebeu duas notícias: a boa é que seria pai (filho muito desejado), a ruim é que fora demitido. Engenheiro sem emprego num país no buraco, as chances de recolocação eram terríveis, 2 meses depois Maurício ainda não tinha conseguido arrumar outro emprego.
Ano passado nessa mesma época encontrei Jean e Maurício, abaixo explano seus respectivos planos pra sair do buraco:
Jean: "vou comprar um carrão, uma nave, tipo um Jetta TSI ou uma BM financiado no nome da minha namorada, aí faço um esquema com fulano, vendo o carro no valor cheio, pago a grana e quito minhas buchas, aí empurro de barriga o financiamento, pagando no protesto..." Bom, não entendi porra nenhuma desse plano maluco, só sei que ele queria fazer algum 171 nervoso e ainda envolver a namorada, pior ainda é saber que o cara não tem o menor pudor de sair falando esses planos bizarros pra outras pessoas, nem amigo dele eu sou, conheço a 20 anos mas isso não quer dizer que somos amigos... tenho dó porque sei que Jean no fundo é um cara legal, somente teve uma educação porca e acredita que não há o menor problema de fazer esses esquemas malucos e criminosos.
Maurício: "cara, não consegui nada, tá foda na minha área... Semana passada decidi fazer um teste, aluguei o carro de um amigo, porque o meu não serve, e comecei a fazer Uber... é um teste pra ver se da certo ou não, se tudo correr como previsto mês que vem compro um carro adequado... tá indo bem, tenho uma meta diária de faturamento que dificilmente não bato, mas quando isso acontece um dia cobre o outro, tenho planilha de controle dos gastos com combustível, celular, água mineral... Vamos ver, espero que dê certo..." Maurício começou no Uber com uma abordagem profissional, encarando como um empreendimento onde há investimento, despesa fixa e variável, etc. Ele tinha seu carrinho e apartamento quitado e depois descobri que tinha, em sociedade com um irmão, um imóvel de aluguel. Cabeça um pouco diferente, não?
Semana passada encontrei Jean e Maurício novamente, veja os updates:
Jean: "cara, me levantei, tô trabalhando novamente na área e tá devagar mas tá dando pra sobreviver... tô andando com essa nave aí (apontando para o hatch de 80k)". Não quis me aprofundar mas provavelmente o
Maurício: "O Uber deu certo, comprei um DeLorean (nome meramente ilustrativo) 2012 adequado até para o Uber Black, só não serve por causa do ano, mas comprei de propósito porque consigo fazer Uber X com um carro de Uber Black e ter ótimas avaliações, além de mais conforto pra dirigir, coloquei GNV, fiz um curso pra aprender a dirigir melhor e ganhar mais, hoje tenho uma agenda de trabalho buscando rodar nos locais e horários que rendem mais. Consigo ter mais tempo pra minha filha e esposa. Tô gostando bastante, não ganho o mesmo que na firma mas dá pra viver muito bem... Vejo um monte de nêgo reclamando que Uber não dá mais dinheiro, que é escravidão, mas poucos sabem o que estão fazendo... " Veja que a abordagem profissional que Maurício encarou o Uber trouxe muitos resultados positivos, sem dúvidas a cabeça de solucionamento de problemas que engenheiros possuem ajudou muito. Ele está tranquilo, adaptou o trabalho ao ritmo familiar e ganha dinheiro pra tocar a vida,.. (em breve um post comentando sobre oferecer mais por menos, exatamente o que Maurício faz).
Assim como eu Maurício é discreto em relação a sua vida financeira, deve ter aproveitado muito bem os anos de gordos salários na "firma" pra formar patrimônio, talvez ele seja um blogueiro e a gente não saiba, rsrs! Hoje pode se dar ao "luxo" de ganhar menos mas tem tempo pra ficar com sua filha pequena, que crescerá na presença do pai o que sem dúvida alguma é fundamental. Por outro lado Jean é espalhafatoso, sai contado detalhes da sua vida pra todo mundo e vive na merda. Por mais que ele ache que não por estar andando de carro top e torrando novamente como se não houvesse amanhã, a gente sabe que ele não está bem e que a vida dele é de merda porque vive no fio da navalha, qualquer escorregada ele se cortará.
Um dos primeiros livros que li quando comecei a buscar educação financeira foi o "Segredos da mente milionária", que em resumo diz o seguinte: uma vez com mente de pobre, você sempre será pobre, não importa o que aconteça na sua vida. Esse é o caso dos pobretões ganhadores de loteria que voltam a ficar na bosta pouco tempo depois. Por outro lado se você tiver cabeça de rico, pode passar por apuros mas sempre vai se levantar porque sua mente é programada pra ser rico. Esse é o caso dos milionários que quebram e pouco tempo depois se reinventam.
Trazendo esse ensinamento do livro pra mais próximo da realidade e sem usar extremos vejo que Jean é a típica mente pobre, programada pra ser pobre eternamente. Ele busca uma falsa riqueza e felicidade em coisas materiais que possam faze-lo parecer rico, Maurício é a "mente milionária" que sempre teve cautela com sua vida financeira e aproveitou um baita de um revez que poderia fode-lo pro resto da vida pra criar uma nova vida profissional, perdeu rendimentos, mas ganhou tempo com sua família.
Particularmente acho que minha mente tem muito de "pobre", talvez herança do meu pai que a vida inteira tentou ser rico sem se preocupar com a estabilidade financeira, que sempre que pode usou de bens materiais como alavanca social, que nos anos 90 colocava seu American Express verde na frente dos outros cartões pra se sentir o fodão (ele mesmo dizia isso com todas as palavras) quando chegava num comércio e "sem querer" colocava a carteira aberta em cima do balcão; que fumava Derby mas quando ia a alguma reunião da família comprava Carlton, etc. Mas essa mesma mente pobre herdada do meu pai luta com a mente milionária que brotou na minha cabeça na tentativa de não repetir as cagadas do velho e a promessa que naturalmente fiz pra mim mesmo de "nunca quebrarás". Mente pobre e mente milionária pode sim ser trabalhada e melhorada, uma prova é o tanto de gente na blogosfera que passou de fracassado fudido a investidor.
Sempre digo que adoro ouvir histórias financeiras, sejam de sucesso ou fracasso, anti-modelos são mais importantes que modelos. Pensando em Jean e Maurício me faz crer ainda mais que meu modelo de vida está nos trilhos certos.
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