Escrevo esse texto numa típica tarde chuvosa da cidade de São Paulo, vejo poucas pessoas apressadas fugindo da garoa. Estou cobrindo um funcionário que deu cano, não vejo a hora de chegar em casa, tomar um banho quente, sentar no sofá e bebericar uma dose de bourbon carinhosamente preparada pela Bia.
Bateu uma bad, meus pensamentos começaram a divagar, imagino como será quando conseguir fazer algo que me dê um mínimo de prazer e satisfação, quando me mudar para o lugar onde tenho vontade de morar, quando conseguirei ampliar minhas amizades, falar inglês, ter músculos mais enrijecidos, etc.
Lembro-me que cerca de 10 anos atrás eu passava por uma situação semelhante. Era empregado e precisei cobrir um colega que não pode ir trabalhar, chovia e fiquei olhando pra rua, imaginando o dia que teria minha empresa, minha BMW e uma namorada/noiva/esposa bela e carinhosa. Gostava muito do trabalho, não sentia asco como acontece hoje mas acreditava que o dia que eu fosse dono, tudo seria ainda melhor. Afinal, desde os 6 anos assistia o Pequenas Empresas e Grandes Negócios, via a cara de satisfação dos empresários, ledo engano!
Uma década separa os dois acontecimentos, a previsão não se concretizou totalmente, afinal não tenho uma BMW, mas teria se realmente fosse algo relevante pra minha vida; a empresa foi conquistada e a Bia me conquistou. O engraçado disso é que hoje sinto a mesma angústia que sentia em meados de 2003, com a diferença que minha ambição atual parece tão mais simples e paradoxalmente tão inalcançável...
De repente imagino a situação perfeita: a vida de 10 anos atrás com as ambições alcançadas no dia de hoje.
Acho que o tempo vai passando, o dinheiro vai entrando e mesmo sem querer e afirmando categoricamente que não, acabamos por assumir comportamentos induzidos pelo aumento de renda: confortos, luxos e experiências que o dinheiro compra. Acontece que chega uma hora (cedo ou tarde) que não vemos mais sentido nisso e acabamos nos voltando para as coisas essenciais. Estou nessa fase, infelizmente (ou felizmente) o dinheiro e “poder” já não me fascinam tanto e a cobiça por eles diminuiu muito. Sinto-me um idiota por correr atrás de dinheiro enquanto poderia estar correndo atrás de coisas mais importantes como ter menos problemas e trabalhar em algo legal.
A conclusão que tiro desse monte de pensamentos jogados é que dinheiro é algo fácil de ser conquistado, desde que você tenha um mínimo de inteligência e paciência. Por outro lado, experiências subjetivas e “felicidade” (o que é felicidade?) são infinitas vezes mais difíceis de serem alcançadas, sendo que na maioria dos casos jamais conquistaremos tudo o que queremos. Talvez usar dinheiro, que é mais fácil de arrumar, para “comprar” uma experiência subjetiva pode ser uma estratégia...
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