segunda-feira, 18 de março de 2013

O Empreendedorismo na Mídia

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor. 

Sei que sou chato, pessimista e intolerante mas tem uma coisa que sempre me incomodou e gostaria de compartilhar com vocês. Praticamente 100% do conteúdo sobre empreendedorismo disponível na internet é claramente escrito por pessoas que não fazem ideia do que é ter uma empresa. A maioria dos textos segue o seguinte modelo:

“O futebol, esporte preferido pela população brasileira, é um jogo onde, duas dezenas mais duas pessoas entram num local estrategicamente concebido para a prática do esporte através do arremeço utilizando os pés, de um objeto conhecido como bola”

Ou seja, são textos extremamente óbvios, muitas vezes tão estúpidos que parecem desafiar a inteligência dos leitores. Todo e qualquer texto sobre empreendedorismo cita o Sebrae, o empreendedor que começou com 1 real a um ano atrás e hoje fatura 1 bilhão de reais por hora vendendo produtos de nicho como cotonetes para limpar ouvidos de bulldogs ingleses. Cita também os números, que tantos % das empresas fecham no primeiro ano, mas nunca mostram empreendedores que quebraram a cara nem se dão ao trabalho de mostrar como evitar erros.

Claro que existem pessoas excepcionais, verdadeiros Midas, que transformam em ouro tudo o que tocam, essas pessoas (os Buffett da vida) devem ser estudados e servem de excelentes exemplos, mas imaginar que teremos o mesmo desempenho delas é ser ingênuo demais. Os programas de TV, as revistas e alguns sites colocam essas figuras como padrão, o que é algo totalmente prejudicial a grande maioria das pessoas que possuem o sonho de ter um negócio próprio. Garanto que se os exemplos mais reais fossem mostrados e explicados, o número de empresas fechadas no primeiro ano reduziria drasticamente simplesmente porque um monte de gente ia perceber que não tem talento (o que não é nada de errado) e desistiria da ideia de ser empresário.

Esse tipo de comportamento não tem a ver com grau de instrução. Vejam quantas pessoas com muito conhecimento se iludem com ganhos fáceis na bolsa, juram que com 1 mês de estudo, R$ 5 mil de capital de risco e um PC com 3 monitores, se transformarão em traders, sem nunca mais precisar por os pés dentro de uma empresa. O mesmo acontece com o empreendedorismo, a mídia passa a imagem que fazendo um cursinho do Sebrae, lendo algumas apostilas e “não misturando PJ com PF” (outra obviedade clássica) qualquer um “desenvolverá” seu talento empreendedor. Acontece que se livrar da atividade de trader é muito mais simples e normalmente requer menos prejuízo que se livrar de uma empresa...

Vejam um excelente exemplo do que realmente costuma acontecer com pessoas que acham saber o que estão fazendo no link abaixo (recomendo a leitura do todo o blog):


Resumidamente, o Henrique foi o primeiro empreendedor a participar do blog da revista PEGN chamado “Primeiro ano da minha empresa”, o objetivo, como o próprio nome diz era acompanhar o primeiro ano de uma empresa através de posts do empresário, relatando as dificuldades e alegrias. O Henrique era um executivo, juntou uma grana e montou uma padaria fodastica em São Paulo, uma padoca linda que tive o prazer de visitar. É o tipo de negócio que qualquer um tem orgulho de ser dono, de postar fotos no Facebook e entregar cartões de visita naquele churrasco com colegas da faculdade.

Não conseguiu completar 1 ano, vendeu a empresa em sérias dificuldades financeiras e voltou para sua área de atuação profissional tendo perdido uma boa grana. Por quê? Começou com menos dinheiro que deveria, ficou dependente de empréstimos o tempo todo e não se tocou que padaria é uma tremenda furada pra quem não tem experiência em comércio: operacional difícil, muitas horas abertas, união de área industrial e comercial, dependente de mão de obra escassa, cara e difícil de lidar, regulação extrema, custo operacional altíssimo e outras desgraças que todo português conhece (mas sabe lidar) bem de perto. Ou seja, tudo errado, eu tinha uma vergonha alheia tremenda toda vez que via um post novo, o resultado era obvio.

Bom, é isso, esse foi um desabafo. Modéstia a parte, tenho certeza que nunca escondi a verdade sobre o que sei do assunto, e jamais farei isso, muito pelo contrário, me sinto na obrigação de falar a verdade e expor a realidade. 

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