domingo, 14 de julho de 2013

Os Empreendedores da Família Corey

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor. 

Algumas pessoas tem perguntado como foi o começo da minha vida de microempresário, como comprei a primeira loja, as motivações, as dificuldades... Acho um assunto interessante de ser abordado, mas como é bem extenso, pretendo faze-lo aos poucos ao longo de algumas postagens. Pra começar esse papo e tentar fazer as pessoas se situarem na minha realidade, hoje vou contar alguns causos da minha família que tem tudo a ver com o assunto.

As famílias dos meus pais são totalmente diferentes. O lado da minha mãe é dominado por pessoas com curso superior (poucos não o fizeram), funcionários públicos, militares e por pessoas com funções, digamos, intelectuais. Não há ninguém rico, mas todos estão financeiramente estabilizados (embora vira e mexe tem um quebrado aqui e outro acolá!).

Até as bochechas de bulldog do Vito são
parecidas com as do meu avô!
O lado do meu pai é totalmente diferente, é formado por self made men, com pouquíssima instrução formal, nenhum dos meus tios tem curso superior (alguns primos tem, mas são minoria), mas todos eles tem grande criatividade e visão comercial, mas nem sempre utilizam essas vantagens de maneira ética, como contarei adiante. É esse ramo da família que descreverei na postagem de hoje.

Meu avô paterno é semianalfabeto, minha avó também. Iniciaram a formação da família no pós guerra, no que costumo chamar de baby boom brasileiro. Ambos trabalharam muito duro pra criar a penca de filhos. Pelos relatos do meu pai e meus tios, a família vivia confortavelmente, no que hoje seria considerado classe média, foram os primeiros do bairro a ter televisão, fogão a gás, batedeira... Passaram alguns apertos financeiros, mas devido a flexibilidade do meu avô de encarar qualquer trabalho, jamais passaram fome. Meu avô mantinha certas práticas hoje vistas como totalmente inconcebíveis, ele colocava a molecada pra trabalhar muito cedo, estudavam no máximo até a 8ª série ou enquanto conseguissem conciliar trabalho e escola, o que era bem difícil. Após começar a trabalhar, o velho cobrava estadia dos filhos, ou seja, cada um tinha que contribuir com X todo mês para “pagar o teto e o rango” e era bem rígido em relação as normas domésticas.

Meu avô dizia com todas as letras que trabalhar de empregado é a mesma coisa que trabalhar de burro pra puxar carroça, que “homem que é homem” trabalha pra si mesmo, que não queria filho dele sendo mandado por outras pessoas, etc. É natural que uma pessoa que cresce ouvindo esses conselhos acabe, mesmo inconscientemente acreditando que isso é verdade. Pra resumir a conversa, aos 18 anos todos os meus tios (inclusive meu pai) eram, de uma maneira ou de outra, donos de algum negócio ou profissionais liberais: pedreiros, mecânicos, vendedores de carros usados, feirantes... Meu pai se orgulha até hoje de ter somente um registro em carteira que durou uns 2 meses, tenho somente um tio que, após anos batendo cabeça como profissional liberal, arrumou um emprego formal recentemente.

Nesse meio de tempo, meus tios fizeram muita coisa pra ganhar a vida, inclusive muita coisa errada como sonegar impostos, vender terrenos que não existiam, vender carros acidentados como novos, entre outras contravenções de maior ou menor gravidade. Reunião de família na casa dos meus avós parece uma reunião da família Corleoni, onde cada um se gaba e dá risada dos golpes que já aplicaram na vida. Todos, sem exceção, tiveram altos e baixos: momentos com muita grana e momentos de quase miséria e nenhum deles consegue administrar dinheiro. Quando tem, gastam tudo, quando não tem, gastam por conta!

Desde criança tive pouco contato com a família da minha mãe, junte a isso o fato de ser homem e viver colado ao pai, fica fácil descobrir a qual porção da família eu puxei. Cresci envolvido em negociações comerciais, acostumei desde cedo com jargões e nomenclaturas específicas. Desde sempre andei junto com meu pai, se não estava na escola, estava colado ao velho, que sempre estava envolvido com algum negócio, conversando com pessoas, visitando bancos e repartições públicas, etc. Como era de se esperar, passei a acreditar que os "jeitinhos" brasileiros eram coisas totalmente necessárias e que não havia outra maneira de fazer as coisas, mas isso me incomodava um pouco... justo eu que sempre fora caxias e CDF na escola, que nunca matou aula e cujo maior crime era dirigir sem habilitação... Meu pai compartilha, até hoje, a velha máxima do meu avô: um homem de verdade deve ser dono do seu próprio nariz. Ele não simpatiza nenhum pouco com a ideia de ter um filho empregado, cresci com esse conceito na cabeça.

Com 14 anos arrumei meu primeiro emprego, passei por algumas empresas até que, com 17 anos a pressão pra “procurar algum negócio pra ser seu” começou a apertar. Meu pai vivia caçando negócios para eu entrar, ele sabia que, ao contrário dele, eu tinha facilidade pra juntar dinheiro e já tinha uma boa poupança (tive sorte, os empregos que tive pagavam muito bem) e um carrinho que valia uns trocos (carro pro velho é o mesmo que dinheiro na carteira). Meus tios sempre me perguntavam se eu não pensava em comprar ou montar um negócio, alguns primos mais velhos já eram donos de seus negócios e a pressão psicológica disso em cima de um garoto imaturo era bem incômoda. Foi aí que o negócio da primeira loja apareceu... mas isso vou deixar pro próximo capítulo!

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