Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.
Recentemente falei sobre os empreendedores da minha família, deu o que falar, com gente me ofendendo, chamando minha família de bandidos, etc. Essas pessoas tem razão, vários integrantes da minha família fizeram (e talvez ainda façam) coisas fora da lei para ganhar a vida, mas isso não quer dizer que eu apoie e tampouco que eu faça o mesmo, muito pelo contrário, esse é um dos motivos para que eu mantenha distância dos meus familiares e o principal motivo que me leva a manter a ética dentro daquilo que me proponho a fazer. Você pode achar que estou com discursinho politicamente correto, mas se você já leu algumas linhas dos meus textos, pode perceber que a última coisa que sou é politicamente correto. Aliás, me esforço pra não escrever sobre o que realmente penso sobre alguns assuntos pra não parecer radical de mais e ser chamado de louco, nazista, essas coisas...
Bom, mas voltando ao post de hoje, decidi, ao invés de falar sobre o começo da minha vida de empreendedor, falar sobre os primeiros empregos que tive na vida, ou seja, a fase pré-empreendedorismo. Não fui daquelas crianças loucas por dinheiro, não seria capaz de fabricar moedas com tubos de pasta de dente como fez o Kiosaky, nem entregar jornais com 6 anos como fez Buffett. Nunca fui consumista, mesmo criança, nunca exigi presentes, não era pidão... então a minha necessidade de dinheiro nunca foi muito grande, mas aos 14 anos eu queria uma bicicleta nova, meu pai estava quebrado e decidi arrumar um bico. Por sorte, um amigo do meu pai, dono de uma oficina topou empregar ilegalmente um moleque de 14 anos, trabalhei alí durante uns meses, juntei a grana da bike e pedi as contas.
Estudava em escola particular de vila, meus colegas, embora não fossem ricos, tinham o que queriam, provavelmente financiados pelos cartões de créditos dos pais, e nenhum trabalhava, desde então passei a ser o diferente da turma, mas isso (juro) nunca me incomodou, muito pelo contrário, eu até sentia um certo status por ir trabalhar todas as tardes, quando sai da oficina, comprei a bike, mas comecei a me sentir um inútil. Durante um réveillon, conheci um amigo do pai da minha namorada na época. Ele era dono de diversos comércios e topou me arrumar um trabalho numa delas. E assim foi, no dia 2 de janeiro eu estava trabalhando naquela empresa que ia fazer toda a diferença na minha vida profissional.
Algum tempo passou e surgiu uma proposta melhor de trabalho, fiquei chateado de deixar a empresa, mas conversei com o patrão que me incentivou a trocar de trabalho e fez questão de ligar ao novo chefe e dar boas referências minhas. A outra empresa era maior, não tinha o trato familiar da primeira, demorei umas semanas mas me adaptei, fiz amizades que mantenho até hoje e comecei a mudar minha cabeça em relação ao dinheiro, principalmente após uma longa conversa com um supervisor. Descendente de turcos (ou algo assim), ele enfiou na minha cabeça a regra de se guardar pelo menos 10% do que se ganha e assim comecei a juntar uma grana na poupança. Mesmo assim durante esse período, nunca deixei de sair, troquei de carro, comprei moto (saudades, muitas saudades da minha motoca!)... A filosofia em relação ao dinheiro do meu pai era: se você tem dinheiro hoje, gaste, porque pode ser que amanhã você não tenha mais... Imaginem como foi difícil lidar com opiniões conflitantes entre meu “pai pobre” (meu pai mesmo) e meus “pais ricos” (os diversos homens que encontrei na vida e que me ensinaram um pouco sobre a maneira correta de tratar o dinheiro).
Foi nessa época que conheci a Bia, e a vontade de “subir de vida” começou a martelar na cabeça. Eu ganhava substancialmente mais que meus colegas, quase todos estavam nos primeiros anos da faculdade, sendo sustentados pelos pais, mas mesmo assim queria mais e é nesse cenário que a ideia de empreender começou a ser maturada, meu pai vivia repetindo o mantra do meu avô que “todo homem deve trabalhar pra si mesmo”. O status de ser propriOtário era muito tentador. Na época eu já tinha um cargo de supervisão e ganhava o que considero muito bem, uns 3 ou 4 mil, o que é uma puta grana pra um moleque de 18, 19 anos até hoje! Mesmo assim larguei tudo pra comprar a primeira loja, mas esse é assunto do próximo post.
Quero dizer que acredito que tive muita sorte, conheci pessoas boas, honestas e dispostas a ajudar, comecei muito cedo, o que permitiu ter uma larga experiência profissional (e de vida) mesmo antes da maioridade. Reconheço que são poucas as pessoas que tiveram essa oportunidade e sei que meu exemplo dificilmente será replicado, hoje em dia é muito mais complicado. Eu mesmo morro de dó em negar emprego a um garoto de 14 anos, penso na oportunidade que eu poderia oferecer, mas não faço por ser ilegal. Por outro lado, nesses anos de empreendedor ajudei a formar alguns profissionais e dei chances a gente que fez por merecer. Trabalhar com vendas, ter grande parte do salário atrelada a desempenho pessoa me fez amadurecer muito, aprender muito mesmo e isso é uma coisa que recomendo a todos: trabalhe com vendas, ao menos uns meses, você verá que é um aprendizado fantástico pra tudo o que você fará na vida. Outra coisa que recomendo é: ao menos no começo da sua vida profissional, trabalhe por dinheiro, dane-se status, trabalhe em serviços pesados, mas que sejam bem remunerados, isso fará toda diferença.
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