domingo, 20 de dezembro de 2015

Sobre Religião

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Só hoje me dei conta que já tratei de vários assuntos aqui no blog menos sobre religião. Sei que disse na retrospectiva 2015 que fugiria de assuntos polêmicos mas acredito que esse post será diferente. Embora religião cause sempre discussões bestas, acho eu que não trará tretas nos comentários pois não vejo meus leitores como religiosos fervorosos. Essa época de fim de ano é uma boa época pra pensar em religião.

Cresci numa típica família católica (hipócrita) dos anos 90. Minha mãe sempre foi muito religiosa, tem diversas imagens de santos, faz orações diárias, acende velas, ia na missa com certa frequência. Mas nada disso a impedia de ser uma pessoa inconveniente, brigar comigo e meu pai a troco de nada, etc. Meu pai sempre se disse sem religião mas com forte tendência católica, é devoto de santo, vai a missa com pouco frequência mas faz orações diárias, lê a bíblia... Assim como minha mãe, essa pseudo fé do velho nunca o impediu de ser extremamente grosseiro, mal educado, de fazer negócios duvidosos, se envolver com gente, digamos, estranha, etc. Ou seja, cresci num ambiente onde a fé católica sempre foi presente mas nunca muito respeitada, nunca duvidei da existência de Deus e acreditava no Deus punitivo.

Durante alguns anos, no começo da adolescência, eu ia semanalmente a missa, achava que aquilo me colocava nos caminhos de Deus, seja lá o que isso significasse. Quem já foi em uma missa católica sabe o quanto aquilo é chato, repetitivo e sem sentido. Sem contar que você é obrigado a aceitar o sermão de um padre como verdade absoluta. Ir a missa era mais uma auto-tortura que qualquer outra coisa, mesmo assim eu ia, sem ninguém me obrigar. Quando comecei a trabalhar tive contato com outras religiões, principalmente evangélicos leves, daqueles que vão ao culto mas bebem, fumam e trepam. Era a versão evangélica da minha família. Conheci Bia, cuja família tem exatamente o mesmo perfil religioso que a minha, mas com ela descobri outros tipos de celebrações católicas mais interessantes, como os grupos de jovens. Com ela fui a outros cultos, abri a mente, frequentei alguns cultos evangélicos, igreja Metodista, celebrações espirituais. Ficou tudo na primeira experiência, nada daquilo também nos atraia.

Nos casamos, as orações eram diárias, mas eu sentia que aquilo era algo imposto, algo feito no automático, não por vontade de procurar Deus ou uma entidade superior, era tudo feito por fazer. Depois de casado a gente frequentava com certa frequência um templo católico específico no qual a gente se sentia muito bem, mas após um sermão totalmente contrário nosso modo de vida, aquele templo também perdeu o sentido. Algum religioso pode alegar que se a gente não concordou com aquele sermão é porque estamos "fora do caminho de Deus" ou algo assim. Pode até ser, mas o que o padre falou naquele dia, sobre jamais aceitar homossexuais, jamais abortar, que sexo é somente uma maneira de Deus punir, entre outras coisas, não entra na nossa cabeça. Desse dia em diante nosso interesse por religião foi sendo perdido dia a dia, as orações, ora diárias, se tornaram menos frequentes, as idas a igreja diminuíram ainda mais.

Se existem duas coisas que revolucionaram minha vida, que abriram meus horizontes e me deixaram com mais vontade arriscar, de procurar um caminho diferente, essas coisas foram viajar para o exterior (e concluir o óbvio, que o mundo é grande pra caralho pra nascer, viver e morrer num lugar só) e abandonar o catolicismo (o que me fez aceitar as diferenças religiosas e entender que tomar um caminho diferente da manada não é errado).

Eu acredito em Deus, não sei como chama-lo, mas acredito que existe algo além de nós, uma força, um ser, uma energia, sei lá... Me acho um cara bem racional e pragmático mas acredito em algo que não vejo simplesmente porque existem coisas que não tem explicação lógica, portanto um ser não lógico deve existir também. Seria eu um agnóstico? Sei lá... de o nome que quiser. Acredito em coisas como energia positiva e negativa, intuição (cada dia mais!), acredito na lei da atração, ou seja, acredito em coisas não físicas e acho que elas influenciam muito nossas vidas. Embora eu seja um cara "bandeira branca" (termo usado nos postos de gasolina sem marca) em relação a religião, tento seguir aquilo que todas as religiões pregam genericamente: não roubar, ser honesto, ajudar o próximo de alguma maneira (ou ao menos não atrapalhar). O motivo da existência desse blog é justamente para seguir isso, pra ajudar alguém. Meu principal meio de aprendizagem é vendo exemplos de terceiros, logo tento dar meus exemplos para que outras pessoas se auto-ajudem.

Sinceramente não acredito que Deus se importa com o tamanho do seu cabelo, da sua saia, se você usa ou deixa de usar bermuda dentro da igreja (só fui me dar conta disso cerca de 5 anos atrás, até então jamais entrava de bermuda na igreja por acreditar que era ofensivo a Deus, foi a Bia que tirou essa besteira da minha cabeça), se você tem tatuagem, se você transa com uma pessoa do mesmo sexo... Acredito que Deus quer que você seja uma pessoa boa, séria, honesta e pra isso mermão, tanto faz ser puta ou virgem. Não acredito num Deus punitivo, mas sei que toda vez que faço algo "errado", receberei uma punição de alguma maneira no futuro, mas isso não é Deus me punindo e sim a lei da ação e reação.

O lado ruim da religião, assim como em tudo na vida, é o fanatismo. Vou contar a história de Carlos. Carlos é um amigo de infância, nos conhecemos em 1992 e desde então somos amigos. Carlos sempre foi um dos melhores alunos da turma, inteligentíssimo para exatas, um dos melhores em inglês e português. Assim como eu, era um dos mais pobres daquela escola particular. Durante o ensino médio Carlos se converteu de católico (do mesmo perfil da minha família) para evangélico fervoroso, batizado, daqueles que trabalham na igreja e tudo mais. O curioso é que Carlos, ao contrário da maioria dos evangélicos praticantes, nunca foi chato, nunca tentou evangelizar ninguém, nunca deixou de falar palavrão (embora reduzira bastante), ou seja, continuou sendo um amigo, um cara legal pra conversar sobre qualquer assunto. Carlos era pobre, mas inteligente, tinha tudo pra ser um baita profissional em qualquer área, mesmo sem grana ele tinha total capacidade de passar numa federal e fazer um curso foda. O que ele fez? Após o término do ensino médio Carlos começou a fazer uns bicos de garçom, office boy, entregador e finalmente entrou pra área da construção civil fazendo um trabalho muito específico. Nunca foi pra faculdade, casou-se com uma mãe solteira e hoje leva uma vida extremamente limitada e apertada financeiramente. Não sei explicar o porquê mas acredito 1000% que a igreja teve uma influência negativa sobre Carlos o que o bloqueou e o impediu de prosperar. Fico muito triste toda vez que converso com ele porque vejo uma mente genial desperdiçada.

O exemplo de Carlos acontece de montes por aí, assim como tem o inverso. O cara torto que se alinha depois de entrar para uma religião e acaba prosperando. Como tudo na vida acho que o segredo é o caminho do meio. Religião no meu modo de ver deve ser uma aliada na vida das pessoas e não A vida da pessoa. Sinceramente eu gostaria muito de encontrar uma religião que me completasse, que me service como um guideline, mas ainda não achei. Talvez isso seja mais um objetivo para 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário