Acredito que a maioria das pessoas que me acompanham tenham entre 20 e 50 anos. Isso traz uma situação muito interessante quando o assunto é economia.
Por um lado a galera de 30 a 50 anos conviveu diariamente na sua infância e adolescência com umas coisas bem bizarras que aconteceram no Brasil: a hiperinflação e o confisco das poupanças. Me incluo nesse grupo, lembro quando moleque comprar balas na cantina da escola com moedas de 5000 cruzeiros, lembro-me anos antes disso usar cédulas de dinheiro com carimbos que cortavam o valor dos zeros, mas mesmo assim cédulas de 10000 cruzados que viravam 10 cruzados novos continuavam sem valer porra nenhuma. A gente tinha um freezer vertical em casa, eletrodoméstico muito comum nas casas dos brasileiros nos anos 80/90, era de extrema importância estocar carne já que os preços disparavam todos os dias sem contar que nem sempre se achava carne nos açougues. Lembro-me do meu pai colocar galões plásticos no chiqueirinho do Fusca e sair pra abastecer tarde da noite quando o Jornal Nacional anunciava aumento da gasolina no dia seguinte. Em 94, pouco antes do lançamento do Real todos carregávamos calculadoras portáteis pra calcular o preço das coisas que eram cotados na bizarra URV cuja "cotação" variava diariamente. Negócios maiores? Você vendia um carro e recebia em dólar, moeda essa que era mais importante que o cruzado/cruzado novo/cruzeiro/cruzeiro real.
Collor confiscou as poupanças, meu pai se fodeu muito mas por muito pouco não se fodeu mais. Estava pra fechar um negócio grande, o comprador perdeu toda a grana que estava na poupança, pelo menos meu pai ficou com o bem. Do dia pra noite famílias ficaram na completa bosta, sem grana pra nada. Lembro-me do suicídio de um conhecido nosso, ele tinha acabado de vender sua empresa, uma rede de lojas, e tinha colocado toda a grana na poupança até achar onde investir, acabou se mantando ao ver uma vida inteira de trabalho sendo roubado pelo governo. A economia parou, meu pai que sempre viveu de negociações ficou parado uns 2 anos, foi uma época extremamente tensa, anos depois o velho recuperou uma merreca através de um advogado.
Por outro lado temos o pessoal de 20, 25 anos que já nasceu com o Real, com a economia estabilizada e em crescimento. Esse pessoal aprendeu que é possível se programar, ter um planejamento a logo prazo, jamais conviveu com essas coisas sinistras da nossa economia, essas pessoas não se preocupam em ter dinheiro na poupança, os investidores dessa idade conhecem a quebra da bolsa do Rio mas pensam nela como algo remoto, que aconteceu a trocentos anos atrás. Os que não em educação financeira tomam empréstimos numa boa, afinal conseguem pagar com um mínimo de controle financeiro, juntando dinheiro ou emprestando dinheiro todo mundo consegue ter um desenvolvimento de patrimônio...
É nesse ponto que quero chegar: nós, trintões temos em geral um certo receio que essas bizarrices econômicas possam voltar ao Brasil e destruir nosso planejamento financeiro, pelo menos esse é o medo que percebo entre meus amigos e conhecidos da mesma idade. Nas rodas nos bares o assunto hiperinflação e histórias como essas que contei no começo do post estão pipocando aqui e ali. Parece que as pessoas estão lembrando mais desses "causos" dos anos 80/90. Seria coincidência ou o rumo que nossa economia está tomando nos faz lembrar disso?
Um amigo corretor de imóveis disse que nesse começo de ano ele já percebeu um agitamento incomum no mercado. Pessoas estão comprando imóveis (ou ao menos procurando negócios) somente pra tirar dinheiro do banco. Disse que fechou uma venda semana passada de 3 imóveis novos encalhados para uma única pessoa. Pagou em cash. Por quê? "Não quero deixar o dinheiro no banco..." Diz o corretor. Outro amigo que tem loja de carro disse que a procura por carros de luxo desvalorizados também está alta. Tem gente preferindo trocar o Corolla por Série 3 com medo de deixar a grana na poupança. Casos isolados? Não sei, pode ser que sim mas pode ser que não.
Particularmente estou com os dois pés atrás. Vou repetir o que já disse anteriormente para que fique bem claro: não sou especialista em economia nem investimentos, comecei o blog com essa vontade mas acabei percebendo que não é pra mim. Temos na blogosfera trocentos blogueiros mais gabaritados pra tratar do assunto economia/investimento mas mesmo assim acho que uma opinião empírica e desprovida de fundamento pode ser útil, por isso me sinto no direito de falar aqui. No momento atual não me sinto seguro pra fazer qualquer tipo de investimento "virtual" (leia dinheiro em banco/corretora). Hoje o que tenho é um pouco de grana na poupança e um bom tanto de FIIs, só. Não tenho coragem de jogar mais grana no mercado financeiro, acho que hoje o melhor é investir em coisas físicas (negócios, imóveis, negócios, negócios, imóveis, negócios e imóveis), ou mandar dinheiro pra países economicamente mais estáveis (mas aí entra o lance da tributação que ainda não descobri como fica). REPITO: ISSO É MINHA OPINIÃO, NÃO É A VERDADE. Meu perfil é averso a risco, logo a bolsa está completamente fora de questão ainda mais com o pouco conhecimento que tenho aliado com a forte instabilidade atual.
Não quero dizer que por ser mais velho, por ter vivido essa fase hard core que estou correto, que sou o dono da verdade espertão e que quem aposta na bolsa é um burro temerário. Nada disso, estou apenas expondo minha opinião e o que tenho percebido ao meu redor. O que você deve fazer? Mermão, isso é contigo, acho que mais importante que a resposta A ou B é achar aquilo onde você se sinta confortável.
O futuro dirá se estou sendo conservador demais ou certo. Espero do fundo do coração que o futuro prove que estou exagerando e que "perdi" dinheiro por ser conservador. Amém!
Por um lado a galera de 30 a 50 anos conviveu diariamente na sua infância e adolescência com umas coisas bem bizarras que aconteceram no Brasil: a hiperinflação e o confisco das poupanças. Me incluo nesse grupo, lembro quando moleque comprar balas na cantina da escola com moedas de 5000 cruzeiros, lembro-me anos antes disso usar cédulas de dinheiro com carimbos que cortavam o valor dos zeros, mas mesmo assim cédulas de 10000 cruzados que viravam 10 cruzados novos continuavam sem valer porra nenhuma. A gente tinha um freezer vertical em casa, eletrodoméstico muito comum nas casas dos brasileiros nos anos 80/90, era de extrema importância estocar carne já que os preços disparavam todos os dias sem contar que nem sempre se achava carne nos açougues. Lembro-me do meu pai colocar galões plásticos no chiqueirinho do Fusca e sair pra abastecer tarde da noite quando o Jornal Nacional anunciava aumento da gasolina no dia seguinte. Em 94, pouco antes do lançamento do Real todos carregávamos calculadoras portáteis pra calcular o preço das coisas que eram cotados na bizarra URV cuja "cotação" variava diariamente. Negócios maiores? Você vendia um carro e recebia em dólar, moeda essa que era mais importante que o cruzado/cruzado novo/cruzeiro/cruzeiro real.
Collor confiscou as poupanças, meu pai se fodeu muito mas por muito pouco não se fodeu mais. Estava pra fechar um negócio grande, o comprador perdeu toda a grana que estava na poupança, pelo menos meu pai ficou com o bem. Do dia pra noite famílias ficaram na completa bosta, sem grana pra nada. Lembro-me do suicídio de um conhecido nosso, ele tinha acabado de vender sua empresa, uma rede de lojas, e tinha colocado toda a grana na poupança até achar onde investir, acabou se mantando ao ver uma vida inteira de trabalho sendo roubado pelo governo. A economia parou, meu pai que sempre viveu de negociações ficou parado uns 2 anos, foi uma época extremamente tensa, anos depois o velho recuperou uma merreca através de um advogado.
Por outro lado temos o pessoal de 20, 25 anos que já nasceu com o Real, com a economia estabilizada e em crescimento. Esse pessoal aprendeu que é possível se programar, ter um planejamento a logo prazo, jamais conviveu com essas coisas sinistras da nossa economia, essas pessoas não se preocupam em ter dinheiro na poupança, os investidores dessa idade conhecem a quebra da bolsa do Rio mas pensam nela como algo remoto, que aconteceu a trocentos anos atrás. Os que não em educação financeira tomam empréstimos numa boa, afinal conseguem pagar com um mínimo de controle financeiro, juntando dinheiro ou emprestando dinheiro todo mundo consegue ter um desenvolvimento de patrimônio...
É nesse ponto que quero chegar: nós, trintões temos em geral um certo receio que essas bizarrices econômicas possam voltar ao Brasil e destruir nosso planejamento financeiro, pelo menos esse é o medo que percebo entre meus amigos e conhecidos da mesma idade. Nas rodas nos bares o assunto hiperinflação e histórias como essas que contei no começo do post estão pipocando aqui e ali. Parece que as pessoas estão lembrando mais desses "causos" dos anos 80/90. Seria coincidência ou o rumo que nossa economia está tomando nos faz lembrar disso?
Um amigo corretor de imóveis disse que nesse começo de ano ele já percebeu um agitamento incomum no mercado. Pessoas estão comprando imóveis (ou ao menos procurando negócios) somente pra tirar dinheiro do banco. Disse que fechou uma venda semana passada de 3 imóveis novos encalhados para uma única pessoa. Pagou em cash. Por quê? "Não quero deixar o dinheiro no banco..." Diz o corretor. Outro amigo que tem loja de carro disse que a procura por carros de luxo desvalorizados também está alta. Tem gente preferindo trocar o Corolla por Série 3 com medo de deixar a grana na poupança. Casos isolados? Não sei, pode ser que sim mas pode ser que não.
Particularmente estou com os dois pés atrás. Vou repetir o que já disse anteriormente para que fique bem claro: não sou especialista em economia nem investimentos, comecei o blog com essa vontade mas acabei percebendo que não é pra mim. Temos na blogosfera trocentos blogueiros mais gabaritados pra tratar do assunto economia/investimento mas mesmo assim acho que uma opinião empírica e desprovida de fundamento pode ser útil, por isso me sinto no direito de falar aqui. No momento atual não me sinto seguro pra fazer qualquer tipo de investimento "virtual" (leia dinheiro em banco/corretora). Hoje o que tenho é um pouco de grana na poupança e um bom tanto de FIIs, só. Não tenho coragem de jogar mais grana no mercado financeiro, acho que hoje o melhor é investir em coisas físicas (negócios, imóveis, negócios, negócios, imóveis, negócios e imóveis), ou mandar dinheiro pra países economicamente mais estáveis (mas aí entra o lance da tributação que ainda não descobri como fica). REPITO: ISSO É MINHA OPINIÃO, NÃO É A VERDADE. Meu perfil é averso a risco, logo a bolsa está completamente fora de questão ainda mais com o pouco conhecimento que tenho aliado com a forte instabilidade atual.
Não quero dizer que por ser mais velho, por ter vivido essa fase hard core que estou correto, que sou o dono da verdade espertão e que quem aposta na bolsa é um burro temerário. Nada disso, estou apenas expondo minha opinião e o que tenho percebido ao meu redor. O que você deve fazer? Mermão, isso é contigo, acho que mais importante que a resposta A ou B é achar aquilo onde você se sinta confortável.
O futuro dirá se estou sendo conservador demais ou certo. Espero do fundo do coração que o futuro prove que estou exagerando e que "perdi" dinheiro por ser conservador. Amém!
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