domingo, 6 de abril de 2014

Sobre Turismo Interno Brasileiro

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Semana passada embarquei para uma curta viagem rumo ao nordeste brasileiro. Bia pegou alguns dias de banco de horas e corremos atrás de marcar uma viagem. Por ser poucos dias, não era possível fazer uma viagem mais ao nosso estilo: internacional, visitando cidades, museus, etc. Tentamos o Peru e Uruguai mas os valores eram muito puxados, então decidimos curtir aqui no Brasil mesmo.

Fazia algum tempo que não viajávamos dentro do país, conhecemos quase todas as capitais do nordeste e por gostarmos de calor e praia decidimos rumar ao norte novamente. Nossa última viajem tinha sido para os EUA no fim do ano, onde ficamos mais de 30 dias, o choque de realidade foi brutal. O turismo dentro do país beira a inviabilidade: preços exorbitantes, aeroportos ridiculamente precários, estradas perigosas e esburacadas, pessoas sem preparo, falta de educação, falta de informação, exploração... enfim, um show de horrores!

Tudo começa no embarque em Guarulhos, um aeroporto ridiculamente apertado perante o fluxo de passageiros, GRU tem tamanho de aeroporto executivo nos EUA, salas de embarque lotadas, falta de informação, mudanças de portões de embarque na última hora, internet inoperante, preços criminosos nos cafés e restaurantes (Pizza Hut cobra exatamente o dobro do preço que as lojas de shopping), embarque realizado pela pista...

Dentro do avião o tormento não difere muito das classes econômicas da maioria das empresas internacionais, nesse aspecto as nacionais somente nivelam por baixo o que encontramos nas demais linhas aéreas gringas. A Gol tem a cara de pau de cobrar 8 conto por um lanchinho meia boca pior que aqueles servidos nas doações de sangue, o ar condicionado só é ligado no momento da decolagem pra economizar combustível... Com sorte o voo sai na hora, aliás, o problema nem é sair e sim chegar em GRU (vou falar mais na frente...).

Chegando no aeroporto do destino, que mais parece um galpão com uma pista de pouso ao lado, os taxis piratas são maioria, os passageiros são disputados no grito. Um show de horrores! No caminho para o hotel é melhor você mandar o taxista seguir o GPS do seu celular, caso contrário a corrida pode custar o dobro ou mais que o normal (como aconteceu com um casal conhecido nosso ano passado no mesmo destino).

No hotel, que custa preço de 3 estrelas e oferece serviço de, digamos, meia estrela, você se depara com atendentes mal educados e de mal humor, lençóis puídos, ar condicionado barulhento, chuveiro elétrico (meu Deus, chuveiro elétrico num hotel não, por favor!), colchão barulhento, café da manhã meia boca, sujeira pelos corredores (isso porque as avaliações do TripAdvisor eram favoráveis).

Na hora de fazer os passeios você deve escolher entre alugar um carro e pagar uma fortuna (impossível alugar carros no Brasil) ou ficar de boa e pagar uma van. Nossa opção foi a segunda e o problema começou para decidir qual "vanzeiro" faria o transporte. Não sou de julgar as pessoas pela aparência (regra número 1 do comércio), mas se você vê um motorista de van de chinelo, cheirando cachaça e fedendo sovaco o mínimo que deveria pensar é na sua segurança... É impossível saber qual empresa é autorizada e qual é clandestina, todas apresentam documentos grudados no para brisa da van, uns parecem xerox da xerox, da xerox, não dá pra saber se é clandestino ou não. Ok, você decide arriscar e embarca em uma das vans rumo a praias prometidas como paraísos na terra, porém pra chegar a esses paraísos você passará por estradas do inferno, cheias de curvas perigosas, buracos, acidentes pelo caminho... motociclistas sem capacete em todos os lugares, playboys com SUV dirigindo em alta velocidade por estradas precárias. No destino tudo é realmente muito bonito, mas sem preparo, sem lixeiras, sem chuveiros para você tirar o sal do mar... uma água de coco pode custar de 1 a 10 reais, dependendo do vendedor!

Depois de uma experiência não muito agradável com um passeio de van, Bia e eu decidimos ficar nas praias do centro mesmo, próximo ao hotel, o passeio havia perdido a graça e o destino não era nem de longe o que estávamos esperando. Lembranças das praias dos EUA? Pode ser... Não dá pra comparar a estrutura. O Brasil é cheio de belezas naturais, isso é fato e inegável, temos cartões postais de tirar o fôlego, mas pouco ou nenhum preparo para exploração turística. Outros países também possuem belezas naturais, isso não é privilégio nosso, falar que o Brasil é lindo e que não tem furacão é muleta. Voltando a praia do centro, praias feias, tipo Santos, sujas, tanto pelas algas (que assolam todo o nordeste) quanto por garrafas, latinhas e papéis. Também pudera, se vi 3 lixeiras na cidade inteira foram muitas.

Os restaurantes e quiosques de praia servem excelente comida, mas espero no mínimo 1 hora para comer, tudo demora muito! Não é porque estou de férias que minha fome pode esperar, acho um absurdo uma comida demorar tanto. Os preços nos quiosques são altos mas compatíveis com a realidade. Alguns quiosques se destacam por uma decoração mais moderna, fechamentos de vidro temperado, ar condicionado, alguns parecem pequenas baladas e vivem lotados, enquanto outros estão sempre vazios. Usando minha curiosidade de empreendedor descobri que boa parte desses quiosques diferenciados são de forasteiros, pessoal do eixo RJ-SP ou estrangeiros. Cadê o pessoal do Sebrae pra capacitar os nativos? Por que é que o governo não interfere de maneira útil e ensina o pessoal local a empreender, precificar corretamente, atender bem os turistas, falar inglês (por 2 vezes precisei socorrer gringos em apuros), por que não limpa as praias, arruma os calçadões? Porque o nordeste é dominado por famílias, são praticamente feudos e os senhores feudais (políticos) fazem lavagem cerebral nos seus colonos (moradores) fazendo-os adorar essas famílias como se fossem seus protetores!

Antes que venham me crucificar dizendo que estou com preconceito quero dizer duas coisas: 1º sou nordestino de nascimento; 2º estou falando da região que conheço, não sei como são as outras regiões do Brasil, tirando Foz do Iguaçu, BH, RJ e claro SP, só conheço as principais capitais do nordeste e minha experiência em todas elas foi muito similar. Gratas exceções para Natal e Fortaleza que parecem léguas a frente das outras. Talvez minhas experiências anteriores não foram tão chocantes por falta de parâmetros de comparação, após essa grande viagem aos EUA percebi como um país decente se prepara para receber turistas.

Ah! Sobre a volta a GRU, ficamos 50 minutos dentro do avião na pista esperando vaga pra estacionar!

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