quinta-feira, 20 de março de 2014

Comércios Independentes: Tem Futuro?

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.


Durante minha viagem pelos EUA em dezembro passado percebi um fenômeno que sabia que existia, mas não imaginava ser tão relevante. Pelas terras do norte o número de comerciantes mom and dad (totalmente independentes) é irrisório perante a quantidade de lojas varejistas de redes e franquias. De 10 lojas de conveniência, acho que 9 são 7-11; de 10 farmácias, 9,999 são Walgreens ou CVS (só vi uma ou duas independentes), etc. A maioria dos comércios independentes são restaurantes e uma ou outra grocery especializada em produtos étnicos.

Pesquisando a respeito descobri que boa parte dos comércios independentes foram comprados por redes ou foram convertidos em franquias. Muitos comerciantes estão no mercado a décadas, mas se modernizaram aderindo a bandeiras de franquias ou licenciamento de marcas. As redes médias, tão comuns no Brasil, são frequentemente compradas pelas grandes em busca de expansão. Por lá é comum uma pessoa ter uma rede de franquias, ou seja, o cara pode ter, por exemplo, vinte lojas 7-11. Além disso as negociações entre franqueado-franqueador são bem flexíveis, com diversas opções de negociação de taxas e duração de contrato. Temos muito o que amadurecer nesse aspecto...

Aqui no Brasil (e também na Europa), a coisa é bem diferente, temos grande concentração de comércios independentes principalmente nos bairros, também existem muitas redes varejistas de tamanho médio, vide o exemplo dos supermercados dos bairros periféricos de São Paulo. Por outro lado temos poucas franquias médias realmente viáveis e com investimento realista, o que acaba impedindo boa parte dos comerciantes a aderir a uma marca conhecida, isso sem contar que praticamente não existe conversão de bandeira como por exemplo as imobiliárias Century 21.

Acredito que num médio prazo teremos muita quebradeira de pequenos comércios, está ficando insustentável manter comércios independentes, a mão de obra está ficando escassa, a legislação confusa e contraditória, isso só para citar alguns pontos. Daqui a pouco tempo será impossível sobreviver no mercado sem um planejamento tributário ativo, o que custa muito dinheiro. Uma coisa que me dá medo é a quantidade de gente migrando para o empreendedorismo por ser algo da moda, algo legal que transmite status, o que costumo chamar de empreendedor engomadinho. Esse tipo de gente, que gasta horrores na montagem da empresa, faz um plano de negócio impecável (no papel, claro), e acha que sabe tudo porque trabalhou como gerente de vendas, está fadada ao fracasso! A prática é totalmente diferente da teoria! Por outro lado, quem costuma se dar melhor é aquele cara que perdeu o emprego, pegou uma grana emprestada do cunhado e meteu as caras na montagem de um negocinho. Esse cara tinha um objetivo pro sucesso: COMER! Se fracassar, não tem dinheiro pra sustentar a família, esse cara é mais flexível a trabalhar pesado, logo é menos dependente de empregados e seu negócio simplesmente não pode dar errado.

Se realmente ocorrer essa quebradeira, oportunidades podem surgir pra quem é experiente e quer negociar empresas (assim como eu). O primeiro perfil (o empreendedor engomadinho) costuma largar a empresa nas mãos do funcionário no primeiro feriado, quando chega as férias do filho, abandona a loja pra ir pra praia, isso sem contar que normalmente gastam muito na montagem das suas empresas, o que resulta numa estrutura de equipamentos e instalações de boa qualidade superdimensionada que será comprada a preços baixos quando a ficha cair e o cara se tocar que não leva jeito pra coisa ou pior, quando se enfiar em dívidas milionárias.

De qualquer maneira não vejo um futuro muito brilhante para o pequeno comerciante de bairro, mais cedo ou mais tarde a luta contra os grandes terminará e sabemos quem tem mais chance de ganhar. Na melhor das hipóteses o bairrista será comprado por uma rede média e poderá sair no lucro, mas muitos não darão o braço a torcer e acabarão quebrando. Comércio hoje no Brasil tem que ser levado como algo pra se ganhar dinheiro no curto, máximo médio prazo. Comprar um comércio pra fazer uma espécie de buy and hold é meio loucura: a legislação cada vez ajudará menos, a concorrência dos grandes ficará cada vez mais forte, a margem de lucro cada vez mais achatada, o custo empregatício cada vez maior, a qualidade dos funcionários cada vez pior. Pra viver de comércio só vejo uma saída: apelar pra franquias robustas, honestas e com valores realistas (será que existe?) ou formar uma rede média, que possua algum poder de compra e consiga estabelecer sua marca numa determinada região, torcendo para que um grandalhão não invada seu pedaço.

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