sexta-feira, 28 de março de 2014

Sobre Oficinas Mecânicas e Nichos de Mercado

Sabe quando digo que aquilo que dá dinheiro é aquilo que sempre deu dinheiro? Que não é preciso reinventar a roda, criar start-ups e rezar pra ser comprado pelo Google pra se dar bem? Vou dar um excelente exemplo disso nesse post.

Como contei no último post, troquei de carro e como é de praxe pra quem troca de carro, decidi levar o possante pra uma revisão geral: trocar óleo, correia dentada, verificar os freios, enfim, dá uma olhada na manutenção preventiva. Isso seria uma coisa simples se não fosse um detalhe: em qual oficina levar? Sempre tive grandes problemas com oficinas mecânicas, uma vez quase morri devido a um acidente causado por uma manutenção mal feita e desde então sou extremamente sismado com esse tipo de serviço. Após esse acidente decidi ter somente carros 0km e fazer as revisões na concessionária que, teoricamente, possuem um serviço mais confiável que as boca de porco da vida. Isso foi na época que eu era um jumento financeiro e tinha três carros zero financiados, vendi dois e fiquei com um. Durante algum tempo continuei fazendo as manutenções preventivas na concessionária, mas devido a falta de tempo para agendar, ficar dois ou três dias sem o carro para uma simples revisão, fui obrigado a apelar para a oficina perto da loja, de um cara, digamos, indigno de total confiança. Como entendo um pouco de manutenção automotiva (na teoria, porque jamais arrisco desmontar algo que não tenho certeza se conseguirei montar novamente), passei a postergar certas manutenções que poderiam esperar e fiquei somente na troca de óleo, correia, alinhamento e balanceamento durante um bom tempo, tudo pra fugir da oficina. 

Então essa semana eu tinha a ingrata tarefa de revisar o carro novo, liguei na concessionária da marca que me cobraria um absurdo por esse serviço e ainda teria que esperar 15 dias pra levar o carro até lá e deixa-lo por uma semana pra fazer essa simples revisão. Liguei em mais duas concessionárias e a história foi semelhante. Aqui perto da loja tem algumas oficinas grandes, os chamados "centros automotivos", com ambientes agradáveis, cafezinho, TV a cabo e ar condicionado na sala de espera. O preço até me pareceu razoável em uma delas, mas fui alertado por dois clientes e um amigo que eles trabalham por comissão o que acaba dobrando a conta no final sem contar a qualidade duvidosa do serviço. Desisti.

Liguei para o antigo dono do carro que me recomendou seu "mecânico de confiança" (isso pra mim é igual cabeça de bacalhau, todos sabem que existe mas ninguém nunca viu), que tinha feito as últimas manutenções do carro, etc. Cheguei até lá, uma oficina média, nada enfeitada, onde trabalha somente o dono, seu filho e seu sobrinho. Nos elevadores somente carros bons, nada de Del Rey, Chevette e Variant; computadores, ferramentas organizadas, senti um pouco de confiança e deixei o carro. No dia seguinte pela manhã ele me liga informando que a parte de freio está ótima, que não há necessidade de troca e que um barulhinho estranho no motor era somente um tensionador de correia, nada mais. Senti firmeza, o tiozão não me espetou a faca, fez um serviço bacana, dentro do prazo estipulado e me cobrou menos que o previsto. Conversando com o balconista da padaria ao lado da oficina descobri que o tiozão dispensa clientes se a oficina estiver cheia e só trabalha com determinadas marcas.

Resumindo: você pode ter uma empresa simples nada inovadora, mas se fizer um trabalho decente, não faltará clientes. Infelizmente vivemos numa época onde prestar um serviço honesto é trabalhar um nicho de mercado. Parece brincadeira, mas o nicho de mercado desse mecânico é somente fazer um trabalho correto, cobrar o preço honesto e não roubar seus clientes! Isso me lembrou do Alexandre da High Torque, quem curte carro com certeza conhece o ADG, um mecânico que fez fama e dinheiro ao consertar Mareas e postar vídeos no YouTube de sua oficina em BH. Ele passa a imagem de arrogante, mete o pau no Brasil, xinga a Dilma, dispensa clientes, expulsa outros da sua oficina, cobra caro e mesmo assim tem fila de espera e clientes que saem do Rio, São Paulo e Espírito Santo. O motivo? Simples: ele passa confiança, tem um linguajar técnico mas que todos entendem, demonstra saber o que faz. Isso é algo que está totalmente em falta nas oficinas mecânicas. Se a High Torque não fosse tão longe, eu mesmo esperaria dias e pagaria caro por uma revisão lá.

O ADG ficou interneticamente conhecido após esse vídeo:


Vejam um dos vídeos que ele faz na oficina em BH:


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