domingo, 9 de março de 2014

Sobre Nostalgia e Perdas Pessoais do Empreendedorismo

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Hoje sai bem cedo de casa, precisava cumprir umas horas na loja, afinal estou com falta de funcionários (tenho um post pronto sobre isso), no caminho para a loja inesperadamente e sem explicação me bateu saudade da época que comecei minha vida profissional, fiz o que tinha que fazer na loja e decidi visitar o bairro onde tive meu segundo trabalho (o primeiro foi como auxiliar numa oficina de bicicletas), onde comecei minha vida adulta (com 15 ou 16 anos), conheci muitas pessoas que marcaram aquele período.

Faziam uns 7, 8 anos que não visitava aquele lugar, refiz o caminho do ônibus que me levava ao trabalho, ao começar a descer a rua da loja, bateu uma emoção forte, lembrei de tudo o que aconteceu naquele lugar. Foi ali que, além de ter meu primeiro emprego de verdade, comprei meu primeiro carro, primeira moto, foi com o dinheiro ganho naquela loja que fiz minhas primeiras baladas, foi ali que iniciei minha vida sexual (muito bem iniciada, diga-se de passagem, rs!), foi ali que precisei assumir responsabilidades e lidar com colegas de trabalho e superiores pela primeira vez... enfim! A loja tinha um ambiente familiar muito gostoso, todos se gostavam muito, era a menor unidade da pequena rede que começava a se formar naquele momento o que fazia a proximidade entre todos ser ainda maior. Sabia que eles tinha crescido bastante, sabia de outras lojas na região e fui visita-las. Uma delas estava aberta (domingo), decidi parar e entrar como cliente, comprar alguma coisa, só pra ver como era...

Inexplicavelmente perdi todo contato com as pessoas daquela empresa, ninguém tinha Orkut, nem Facebook (agora quem não tem Face sou eu, rs!), os contatos se perderam. Imaginei que todos ali naquela loja seriam desconhecidos, afinal, além de perder contato com meus antigos colegas eu pouco frequentei aquela região depois que me desliguei da empresa. Logo que entrei na loja ouvi: "Corey?", quando olhei percebi que era uma auxiliar de loja da minha época! Era agora supervisora, conversamos alguns minutos, ela me apresentou para os colegas e percebi que aquele clima familiar continuava, mesmo com a rede talvez 10x maior que na minha época. Quase todos que trabalharam comigo e marcaram minha vida ainda estavam na empresa! Incrível como esse tipo de coisa ainda aconteça! Engraçado é que embora o proprietário seja a peça chave dessa união, parece que todos que passam por lá acabam absorvendo esse clima positivo e familiar da empresa, é algo contagiante, que passa de uma pessoa para outra. Esse pode ser o segredo do sucesso deles, conseguem se manter no topo mesmo não tendo a melhor linha de produtos nem o melhor preço, mas com certeza absoluta possuem o melhor atendimento da região.

Depois de conversar alguns minutos com a menina, fui pra casa, no longo caminho fiquei pensando nessa última década, em tudo o que fiz, aprendi e conquistei. Fiquei imaginando outros possíveis caminhos que poderia ter trilhado, claro que são apenas suposições é impossível saber como seria, mas cheguei a algumas conclusões sobre a minha longínqua decisão de me tornar empreendedor:

1- Empreender permitiu-me ganhar muito mais dinheiro do que qualquer outra decisão que tivesse tomado na vida. Caso eu tivesse optado por continuar funcionário jamais teria o dinheiro que tenho hoje e nem teria aproveitado as coisas boas que ele proporciona como viagens e poupança. Essa é a principal vantagem da minha decisão.

2- Empreender me tirou a possibilidade de conhecer pessoas. Antes de comprar a primeira loja eu conheci muita gente e fiz várias amizades* por conta do trabalho. Conhecia muita gente quando entrava num emprego novo e depois mais pessoas que iam entrando na empresa. Depois de empreender, posso resumir a quantidade de pessoas que conheci a algumas poucas dezenas (em 1 década é pouquíssimo), sem contar que grande parte dessas foram meus funcionários. A relação patrão-funcionário é totalmente diferente da colega-colega. Esse é o principal prejuízo que empreender me deu.

*Amizades não são necessariamente pra vida toda, não é porque perdi contato com determinada pessoa que ela não possa ter sido realmente minha amiga em determinada fase da vida.

3- Empreender me obrigou a encarar uma quantidade de problemas muito maior que se eu fosse funcionário. Além da quantidade, tem a "qualidade" dos problemas, o empreendedor além de ter mais problemas, possuem problemas maiores, mais graves e mais importantes pra resolver que quase sempre interferem na vida de terceiros.

4- Não tenho modéstia, eu era um dos melhores nas empresas que trabalhei, sempre fui o melhor vendedor, sempre fui o referencial positivo, sempre fui aquele cara respeitado e experiente que era consultado pelos colegas com dúvidas. Isso fazia muito bem pro ego, não era metido, não me achava, mas no fundo me sentia importante por ter essa imagem. Acho que se tivesse continuado como empregado, teria atingido o nível hierárquico máximo da empresa rapidamente e não sei como seria após isso... Como empresário me tornei mais um comerciante de vila, tudo bem que fiz escolhas pra me manter pequeno, me desfiz da minha antiga loja quando ela tinha tudo pra se expandir, mas as vezes me sinto um fracassado perante outros comerciantes com o mesmo tempo de empreendedorismo que eu. Isso é o oposto do meu sentimento da época de empregado.

Eu tive muita sorte durante minha vida de funcionário, trabalhei em empresas boas, que tratavam seus colaboradores com respeito e carinho, fui sempre bem pago, conheci pessoas muito boas, aprendi muito e em pouco tempo. É uma pena que perdi muito por ter optado em ser patrão, mas a vida é feita de escolhas e não se pode ter tudo, isso não é frase pronta, isso é verdade. Empreender me deixou mais rico financeiramente falando, e bem mais pobre do ponto de vista de pessoa. Acredito que grande parte da dificuldade que tenho ao lidar com gente hoje em dia é por ter exercido pouco a tolerância com colegas de trabalho. Assim que as coisas se acertarem na loja, pretendo arrumar um emprego na minha área de formação e tentar correr atrás de um pouco dessa experiência que perdi. Pensem bem antes de tomar qualquer decisão radical, muitas vezes os efeitos colaterais só aparecem anos depois!

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