quarta-feira, 7 de março de 2012

Anti-modelo: você também precisa de um!

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Lendo um post do Rafael  comecei a refletir sobre as atitudes financeiras da minha família. Sou filho de baby boomersbrasileiros, e talvez devido a tudo que passaram, essa geração costuma ter um comportamento no mínimo estranho em relação ao dinheiro.

Minha mãe tem curso universitário, mas nunca atuou ativamente na área. Durante a vida toda ganhou menos que o piso salarial da categoria, mas durante muito tempo, essa grana nos sustentou.

Meu pai tem curso técnico. Cresci vendo-o fazer besteiras financeiras: negócios errados com gente errada na hora errada. Ele é um negociante nato, entende da arte, aprendi muita coisa vendo-o, porém sabe ganhar dinheiro, só não consegue mante-lo. Jura de pé junto que todos os negócios errados que fez foram culpa dos outros, aliás, eu acredito que na cabeça dele essa é a verdade.

Durante minha infância e adolescência, vi meu pai quebrar e se levantar inúmeras vezes. Era sempre a mesma coisa: quando a grana acabava, vendia o carro e alguma propriedade (quando tinha) pra custear a vida, normalmente isso não era suficiente e recorria a empréstimos com amigos e agiotas. E lá iam anos das vacas magras. Quando a grana entrava, mais da metade era pra pagar cartões de crédito e agiotas, sobrava pouco pra entrar em outro negócio. Comprava um carro financiado, em casa havia fartura, até o próximo negócio dar errado e, vender o carro...

No início dos anos 2000, com a melhora da economia, meu pai finalmente se acertou, nunca mais quebrou, não está rico mas não passa mais aperto. Acredito que por mais cagadas que faça, não vai parar no fundo do poço novamente, afinal está mais velho e tem consciência que não pode se expor a riscos elevados. Porém continua fazendo coisas “estranhas”. Veja:

1-    Compra carro de 30k, financiado em 36x ou mais, sem entrada. Adianta meia dúzia de prestações, se gaba por ter economizado ”muita” grana. Após o término do financiamento, vende o carro e compra outro da mesma maneira. Resumindo: paga 50k num bem de 30k que será vendido por 20k.

2-    Tem todos os cartões de crédito que existem, e claro, paga anuidade de todos, já que pegar o telefone, ligar pra operadora e pedir isenção é “mendigar”;

3-    Não compra nada a vista, tudo parcelado. O lema é: “porque pagar agora se posso pagar depois”. Se a grana viesse de algum investimento aí seria bom negócio...
4-    Não viaja nem compra roupas porque não tem dinheiro, mas pagar juros num financiamento é com ele mesmo;

5-    Insiste nas idéias “anos 60”. Com certeza ele poderia ganhar muito mais se modernizasse seus métodos. É uma pessoa totalmente fechada a inovações.

Meu pai não é a única pessoa com esse comportamento, aliás, a grande maioria das pessoas nascidas nos anos 40 e 50 que conheço são exatamente da mesma forma e todos, sem exceção, passaram por situações semelhantes à do meu pai e acham que quebrar é algo totalmente normal e aceitável, e mais, que todo mundo vai quebrar um dia. Sai urubu!!!! 

Acredito que esse comportamento vem da falta de informação (hoje temos Google, eles tinham jornais censurados) e das fases hard core que o Brasil passou nos últimos 30 anos. Nós que estamos na faixa dos 30 anos somos privilegiados: temos informação disponível em quantidade imensa, um país estabilizado, uma política relativamente boa (ainda é um lixo, mas é muito melhor do que já foi), uma única moeda com todos os zeros originais há 18 anos e contato com outros que pensam da mesma maneira.

Quero chegar num ponto: aprendo muito vendo as coisas erradas que os outros fazem. Aprendi muito mais com os erros do meu pai que com seus acertos. Todos os amigos dele, meus tios e outras pessoas dessa idade quebraram de maneira estúpida, e eu aprendi com isso. Não cometerei o mesmo erro. Esse tipo de aprendizado não tem preço! Aprendi com o dinheiro dos outros e não com o meu, só por isso tudo já valeria a pena. Essas pessoas, e seus erros são meus anti-modelos, quando me deparo com alguma situação semelhante a que os vi passar, tento fazer exatamente o oposto e, costuma dar certo.

E você tem um anti-modelo pra seguir?

Nenhum comentário:

Postar um comentário