sexta-feira, 9 de março de 2012

[Off] As babaquices dos imóveis atuais

Esse post foi publicado originalmente no antigo Blog do Corey e não necessariamente representa a atual opinião do autor.

Somos todos consumidores, e teoricamente, temos a chance de escolher o que queremos ou não consumir. Muitas vezes, para comprar algo que precisamos, somos obrigados a pagar por coisas totalmente desnecessárias.

Vejam o exemplo de imóveis. Você, morador de São Paulo, já experimentou comprar um apartamento novo que não tenha salão de festas, brinquedoteca, “espaço gourmet”, academia e piscina? Isso é missão impossível, não existe um empreendimento em Sampa que contenha somente o básico: quarto (ou quartos), sala, cozinha, banheiro e lugar pra guardar carro. Aliás, muitos abrem mão do básico (e necessário) em prol dos supérfluos, grande parte dos novos apartamentos de São Paulo possuem apenas uma vaga, mas tem todas as quinquilharias que relatei. Então, se você é casado, sua esposa (ou marido) terá que guardar o segundo carro da família na rua, isso é, se a região permitir, mas por outro lado poderá fazer pizza no forno a lenha pros amigos.

Esse conceito de condomínio-clube é um desperdício de dinheiro, quase ninguém usa efetivamente todos os recursos do condomínio, fora que normalmente esses agregados são cenográficos: academias com pouquíssimos equipamentos, piscina pequena, brinquedoteca sem brinquedos, etc. O desperdício de dinheiro ocorre duas vezes: a primeira no ato da compra, e a segunda, e pior, mensalmente ao pagar o boleto da taxa condominial. Claro! Tudo isso gera custo, manutenção, funcionários, e quem paga é você, usando ou não.

Eu me interesso bastante por engenharia e arquitetura, leio muito a respeito, principalmente sobre os prédios de São Paulo, alguns lindos e icônicos. E nessa busca de informação aprendi muitas coisas, entre elas que os construtores antigos eram muito mais inteligentes que os atuais. A começar pelo estilo dos prédios, hoje os prédios residenciais são caixotes com janelas. Antigamente eram obras de arte. O conceito de apartamento era mais racional:

Ø  Kitnetes: os conjugados são úteis para muitas pessoas: solteiros, casais sem filhos, pessoas que precisam de uma segunda moradia perto do trabalho, estudantes e pessoas minimalistas são beneficiados por esse tipo de moradia. O centro de São Paulo é povoado de prédios de kits, hoje, um apartamento desses em bom estado e num local menos ruim (leia-se: meio longe da cracolândia) vale uma fortuna, chegam a custar mais de 10k/m2, isso se você achar um para comprar. Com passos de tartaruga, alguns novos empreendimentos estão despertando para essa necessidade, lançando os chamados studios, nova nomenclatura para as kits. Hoje é cool morar num studio, obviamente os preços se elevam num ritmo maior que a construção dos prédios.Particularmente eu acho o conceito de kit extremamente inteligente.

Ø  Personalização de planta: durante os anos 40 e 50 era muito comum a possibilidade de escolha da distribuição dos cômodos já que a construção em concreto armado possibilita o remanejamento de paredes. Hoje, no máximo você consegue tirar ou colocar uma parede, antes você poderia escolher se sua cozinha ou a sala iria ficar na entrada do apê. O Edifício Viadutos (de Artacho Jurado) é um exemplo disso, o comprador tinha a possibilidade até de remover colunas, juntar 2 ou mais unidades, entre outros arrojos até para os dias atuais.

Ø  Áreas comuns na cobertura: grande quantidade dos antigos prédios paulistanos possui em sua cobertura áreas de uso comuns: salões de festa, piscina, pista de Cooper, etc. Tudo isso num espaço morto e não ocupando áreas que poderiam ser usadas com vagas de garagem ou locação para fins comerciais.

Ø  Áreas de locação: grande parte dos prédios residenciais de São Paulo construídos nos anos 50, possuem salões comerciais no térreo, o aluguel desses espaços contribui para a diminuição do valor da taxa de condomínio. Antes da lei Cidade Limpa, muitos alugavam suas fachadas ou coberturas para publicidade, infelizmente, muitos condomínios sofrem com essa perda de renda.

Infelizmente é raro encontrar um apartamento “pelado” pra comprar, o que obriga o consumidor a pagar por coisas que raramente vai usar. Não sei o que vem primeiro: a necessidade da construtora lucrar agregando valor ao imóvel ou a “necessidade” do comprador que exige esse tipo de coisa.

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